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ANITTA É FODA


TOM LIRA, PROFESSOR E ESCRITOR


O titulo desta matéria não é uma constatação tão recente. Lembro-me de já ter dito esta frase algumas dezenas de vezes e para diferentes interlocutores. Porém, ter assistido ao clipe de lançamento do álbum Girl from Rio, fez-me despojar de certo empolamento vocabular para, pela primeira vez, permitir que minha alma decidisse sobre o título de um texto meu.

Isso mesmo, amigo leitor. Se puder, volte ao título e leia-o de forma pausada. Escute a alma de um sujeito estupefato dizendo em voz baixa, quase em sussurro... ANITTA É FODA.

Girl from Rio é uma porrada!

Confesso que, por conta do meu reconhecido preconceito musical, demorei mais do que deveria pra sair um pouco da bolha e prestar mais atenção ao trabalho da jovem suburbana que despontava. A principio imaginava ser apenas mais fenômeno pop, desses que aparecem, subitamente, aos montes, surfando em ondas isomórficas, tão comuns no ambiente musical e que, da mesma forma, são engolidos pela baixa das marés sem deixar qualquer legado. O fenômeno, desta vez, apresentava uma espécie de Funk-Rap-Mistureba, associados a uma bunda inquieta e irretocavelmente bem esculpida. Apesar de já saber que fora ela, a primeira artista brasileira a vencer o prêmio MTV EMA Worldwide Act Latin America em 2015, permaneci resistente. A ruptura se deu mesmo por ocasião da abertura dos jogos olímpicos 2016, na qual atendeu ao convite para interpretar “Isso aqui, O que é?”, de Ary Barroso, ao lado dos icônicos Gilberto Gil e Caetano Veloso. Aquele encontro me pareceu incomum. Dali em diante baixei as armas e passei a observar mais atentamente os passos da cria de Honório Gurgel. Logo em seguida uma nova surpresa. Em outubro daquele mesmo ano Anitta é convidada, apresenta-se e brilha ao lado do tenor italiano Andrea Bocelli.

Como diriam uns anciões que conheci e convivi na adolescência: não restava a menor dúvida. “Debaixo desse angu tem caroço”.

E bota caroço nisso!

Depois de mostrar suas facetas como atriz e apresentadora de TV, emplacar um sucesso atrás do outro, chegar ao seleto grupo da Billboard Hot 100 dos EUA, angariar a admiração de grandes celebridades do meio musical e de importantes personalidades do Show Business pelos quatro cantos do mundo, a pondo de Ryan Tedder, compositor e vocalista da banda norte-americana OneRepublic, afirmar em entrevista à revista Veja: “Todo mundo em Los Angeles e Nova York quer trabalhar com Anitta”. Eis que a garota do subúrbio mexe as peças e... Xeque-mate!

Girl from Rio é simplesmente espetacular. É poesia do início ao fim. Sob a melodia de “Garota de Ipanema”, uma das canções mais executadas no mundo em todos os tempos, harmonizada com recursos da música eletrônica e outras batidas – uma sensacional espécie de Bossa Nova-Funk-Rap-Mistureba – o clip traz a visão dos figurinos e paisagens das décadas de 1950 e 60, com fotografias que representam o romantismo e o glamour da época, sobretudo dos cenários reconhecidamente simbólicos da “Cidade Maravilhosa” e, de repente, descortinam ao espectador a alma mais crua da lendária Garota do Rio. A parceria entre Tom e Vinícius, desta vez não terá Helô Pinheiro a protagonizar a cena e nem as pedras do Arpoador ou o mar do posto nove a emoldurar o cenário. É chegada a hora do Piscinão de Ramos, do buzão lotado, do churrasquinho de gato, da cerveja em lata no isopor, da água oxigenada pra dourar os pelos, da quentinha, da paquera, da pegação e delas... É claro... As garotas do Rio. Exibindo suas curvas ou tangências, simétricas ou assimétricas. Vulgarmente ou elegantemente, encantadoras.

Vinicius e Tom devem estar com os olhos embotados. Orgulhosos em ver o que foi feito daquilo que eles fizeram.

Anitta mostra a Garota do Rio para muito além do estereótipo da beleza ocidental e, ainda, para muito além do fantasioso modelo sensual da mulher brasileira. Deixa claro que para conhecer essa garota o passeio entre o Leme e o Pontal não basta. A Garota do Rio by Honório Gurgel trabalha em Copacabana e mora em Guadalupe, está na plateia do Municipal e do Maraca lotado, bebe mate gelado no Leblon e cerveja na quadra da Mangueira; defende tese na UFRJ e rebola a raba no Baile da Penha.

Sai pra lá com essa história de “objetificação do corpo”!

A Garota do Rio by Honório Gurgel é zona sul, é subúrbio, é favela... É a beleza sensual da nossa diversidade, a poesia da nossa sublime vulgaridade, a fotogenia das celulites; a expressividade das nossas bundas.

Na letra da música, gravada em inglês, a showgirl profetiza: “you will fall in love with the Girl from Rio”.

Verdade, Anitta. Eu já me apaixonei.

Acho que, até então, poucas pessoas poderiam imaginar que uma improvável mistura entre Anitta e a Bossa Nova pudesse produzir algo tão, especialmente, belo. Isso me fez lembrar de Caetano, que diz em uma das faixas do seu álbum Abraçaço: “A Bossa Nova é foda”.

Eu concordo com ele e acrescento... A Anitta, também, é foda.

A gente se vê por ai.















 
 
 

1 Comment


Annita é foda mesmo.

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