
RIBAMAR VIEGAS
ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO, TÉCNICO EM PONTES E ESTRADAS, INSTRUTOR DE DIREÇÃO DEFENSIVA E CONDUÇÃO, ESCRITOR.
Relações amorosas entre quatro paredes do clero católico sempre ocorreram, independentemente de os conservadores da cúria do Vaticano qualificarem o ato de sacrilégio. Braço de papa nunca alcançou esses celibatos pecadores para penitenciá-los. Adultos, eclesiásticos sabem da eminente necessidade de guardarem debaixo de sete chaves as suas “fraquezas” da carne. Obviamente que alguns desses segredos terminam escapando .... Quem, por acaso, nunca soube da existência de filhos de padre? ... Só não tem com o nome de Júnior, claro!
Era um final de tarde em São Luís e, de repente, o calor abafado transformou-se em pancada de chuva. A irmã Angélica, com o seu hábito respingado de água da chuva, tentava proteger-se do temporal numa parada de ônibus. De súbito, um Cadillac vermelho parou a sua frente. A porta do carro foi aberta, e uma voz feminina gritou:
─ Venha, irmã, lhe dou uma carona!
A freira olhou para o interior do carro ─ apenas uma mulher no volante ─, entrou e agradeceu em nome do Senhor:
─ Deus lhe abençoe!
─ A irmã vai pra onde?
─ Para o convento, no Largo do Carmo!
─ Pode deixar, levo a senhora até lá!
─ Bonito carro! – Elogiou a freira.
─ Ganhei de um político com quem namorei do Natal ao final do ano, em Campos do Jordão. Ele me deu também este casaco de pele, lá faz muito frio! Pode pegar, veja como é suave.
− Macio! – Respondeu a freira após passar a mão.
─ Ah! Tá vendo este anel de brilhante? Foi presente de um rico empresário com quem passei um final de semana em um Hotel Fazenda, em Águas de Lindóia! (A freira olhou disfarçadamente para a joia) .... Meu apartamento, em Ponta da Areia − continuou esnobando a perua − foi presente de um fazendeiro do Mato Grosso. Viajamos de três em três meses no avião dele para o exterior. Conheço Europa, Estados Unidos, Japão.... Esta foto ─ retirando-a do porta-luvas ─ foi nas pirâmides do Egito... tome, fique com ela. É uma lembrança minha para a senhora.... Tem meu autógrafo e meu telefone.
A freira, com simpatia:
─ Chegamos! Que Deus lhe pague! ... E obrigada pela foto! – Agradeceu a freira, ao descer do carro.
O Cadillac arrancou, e o olhar comprido da religiosa acompanhou o luxuoso veículo até dobrar na rua e sumir.
A irmã Angélica adentrou o seu cubículo, livrou-se do hábito úmido, tomou banho, contemplou no espelho o seu esbelto corpo de 32 anos, vestiu o chambre, jantou sopa, escovou os dentes, orou e deitou-se admirando a foto das pirâmides na Península de Gizé. Na mente, o Cadillac, o casaco de pele, o apartamento em Ponta da Areia, o anel de brilhante, as viagens pelo exterior...
A jovem freira, adormecida, sonhava dirigindo um Cadillac ao redor das pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos e despertou com as suaves batidas na porta do seu cubículo:
─ Toc, toc, toc... toc, toc, toc...
Por baixo do lençol, a freira perguntou num tom nada angelical:
− Quem é? ...
A resposta veio numa voz quase imperceptível:
─ Sou eu! ... Padre Paulo! .... Trouxe balas de menta...
Aí foi demais para irmã Angélica, que descobriu o rosto e, intimamente, respondeu pecando:
─ Soca tuas balas de menta n c ...














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