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COMO LACAN RENOVOU A PSICANÁLISE E A APROXIMOU DAS CIÊNCIAS HUMANAS.


Por Renata Cecconello

Jornalista e Publicitária

Instagram @rececconello_


Psicanalista francês responsável por afirmar que o inconsciente se estrutura como linguagem, Jacques Lacan (1901-1981) completaria 120 anos. Sua obra foi responsável por construir alicerces filosóficos para a psicanálise e transbordou sua influência a outros campos das ciências humanas.


Com Lacan, que se considerou um comentador de Sigmund Freud, propondo um retorno a suas ideias, a psicanálise bateu asas de sua fundamentação nas ciências biológicas e encontrou desenvolvimento na relação com a linguística. Sua afirmação de que o inconsciente se estrutura como linguagem, somada às noções de simbólico, imaginário e real, são algumas das contribuições decisivas de seu trabalho.


Seu nome completo era Jacques Marie Émile Lacan, nascido na cidade de Paris em 1901, em plena belle époque. Formado em medicina, especializou-se na psiquiatria com uma tese de doutorado defendida em 1932 que não fez eco entre os pares, mas acertaria direto na cabeça dos surrealistas, um encontro que tingiria decididamente os rumos teóricos de Lacan.


Por mais de 20 anos, manteve um seminário semanal, sensação entre a intelectualidade perambulante pela França, reunindo frequentadores que iam do antropólogo Claude Lévi-Strauss ao cinemanovista Glauber Rocha, passando por entidades como Michel Foucault e Gilles Deleuze. Foi nesses encontros públicos que realizou a maior parte de sua obra, já que publicou pouquíssimos livros. Disse até o fim que era freudiano, realizando uma radicalização das ideias e do projeto de Freud, uma afirmação que até hoje provoca controvérsias na psicanálise. Morreu em 9 de setembro de 1981.


Para compreender a trajetória de Lacan, é preciso ter em vista que a psicanálise se instala tardiamente na França em relação a países como Inglaterra, Alemanha, Itália e Estados Unidos. Em grande parte, por conta do influente Pierre Janet, psicólogo concorrente de Freud que chegara mesmo a acusar o austríaco de plágio.


Na França, a psicanálise entra de uma maneira diferente de outros países, ela entra na cultura ligada ao Surrealismo, às vanguardas críticas e à epistemologia marxista, a uma psiquiatria inquieta com a sua própria época, uma psiquiatria que é ao mesmo tempo teoria da cultura.

Dessa forma, quando Lacan começa a ganhar reconhecimento, nos anos 1950, a psicanálise já estava assimilada à psiquiatria e à psicologia em diversos países, ainda que chegando atrasada na França. “Podemos caracterizar Lacan como uma espécie de crítico da psicanálise da sua época – de reinventor da psicanálise para alguns, alguém que recolocou a psicanálise no debate com a ciência, com a filosofia, com a cultura e com a literatura”.


Lacan também representou os embates dentro da própria psicanálise e sua dificuldade em sustentar uma unidade. Ele é expulso da principal associação de psicanálise e surge, então, como o primeiro modelo alternativo para a formação de psicanalistas. Ele tem uma renovação teórico-conceitual, mas também uma renovação da maneira de praticar a psicanálise e da maneira de formar psicanalistas.



 
 
 

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