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RIBAMAR VIEGAS

ESCRITOR LUDOVICENSE



No Brasil, nos dias de hoje, apesar dos nossos antepassados indígenas, africanos, europeus e asiáticos, constituindo-se na maior miscigenação do mundo, ainda é notória a hipocrisia do preconceito racial.... Imaginem há 84 anos! ...


Francisco de Meneses Pimentel, um dos políticos mais conceituados, inteligentes e respeitados do Ceará no início do século XX, foi deputado estadual e federal, senador da república, vice-governador, governador, professor, advogado e acadêmico..., Contudo, Meneses Pimentel era baixinho, atarracado e não era branco.


O ditador Getúlio Vargas, em 1937, não teve dúvida em nomear o competentíssimo Menezes Pimentel para o cargo de Interventor Federal do Ceará. Indiscutivelmente, tratava-se da melhor nomeação de Getúlio na época. Mas, os tradicionalistas cearenses não viam a coisa do mesmo jeito. Enxergavam um gravíssimo defeito em Menezes Pimentel: não era branco! .... Por conta disso, não faltaram rumores no Palácio dos Catetes, residência do Presidente da República, no Rio de Janeiro, de um complô para matar o Interventor do Ceará. Preocupado, Getúlio Vargas determinou a Menezes Pimentel que andasse sempre com segurança pessoal. Mesmo assim, os rumores de um provável atentado à vida do interventor cearense continuaram pelos corredores do Palácio.

Ao montar sua equipe de trabalho − talvez para agradar aos brancos remanescente do regime Imperial, tidos como “sangue azul” − Menezes Pimentel nomeou, para Chefe da Casa Civil, um luso brasileiro radicado no Ceará, de muita desenvoltura no desempenho das funções burocráticas, cujo raciocínio era predominantemente lusitano. O homem não pronunciava copo d´água (para ele copo podia ser de qualquer coisa, menos (d´água) Ele solicitava copo com água, ou seja, tudo rigorosamente ao pé da letra. Gíria nem pensar!


A notícia que todos temiam chegou ao Rio de Janeiro como uma bomba. O Interventor do Ceará havia levado vários tiros de armas de grossos calibres. No Palácio dos Catetes foi aquele corre-corre. A comoção logo tomou conta de todos, principalmente do Presidente Getúlio Vargas, que se reuniu imediatamente com o mais alto escalão do seu governo para tomarem as imediatas providências. Primeiro precisavam da oficialidade da cruel notícia − na época, as comunicações telefônicas interestaduais no Brasil praticamente não existiam − e, de imediato, o Chefe da Casa Civil da Presidência da República enviou um cabograma via Western Telegraph para Fortaleza com os seguintes dizeres:


─ “INFORME URGENTE SE INTERVENTOR MENEZES PIMENTEL FOI ALVEJADO! ”


O português, Chefe da Casa Civil do Ceará, desconhecendo a polissemia da palavra alvejar e, com uma pontinha de preconceito racial, não pensou duas vezes e respondeu nestes termos:


─ “INTERVENTOR MENEZES PIMENTEL NÃO FOI ALVEJADO! ... CONTINUA PRETO! ”


(Menezes Pimentel ficou Interventor Federal do Ceará de 1937 até 1945)











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