Crônica - Noção Zero
- jjuncal10
- 30 de dez. de 2024
- 1 min de leitura

Por Nelson Neves - Pedagogo, Pós-graduado em Coordenação Pedagógica, Escritor de Literatura Infanto-Juvenil e de Romance
Uma grávida chegou a um posto de saúde e disse à recepcionista:
— Estou no oitavo mês de gravidez, e o meu médico, desta mesma unidade, solicitou uma ultrassonografia para confirmar o sexo do bebê, porque, da vez em que esse exame foi feito, ele estava com as perninhas cruzadas. — Enquanto falava, a grávida pegava a solicitação do exame assinada pelo médico e a entregava para a atendente.
A atendente pegou um livro de anotações, abriu-o, consultou-o, pegou uma caneta que estava presa no cabelo, escreveu algo, ergueu o rosto, olhou para a grávida e, gentilmente, disse:
— Pronto, senhora, o exame está marcado. Deixe-me anotar no verso da folha da solicitação que ficará com a senhora, para que não haja esquecimento. — Assim que escreveu, entregou o papel à grávida.
— Mas aqui diz que é só daqui a dois meses!
— Sim, senhora, isso mesmo!
— Mas eu estou no oitavo mês de gravidez!
— Eu sei, a senhora já disse. E daí?
— Como assim “e daí”? Tem mesmo certeza de que isso não significa nada para você? Já que não percebe, eu digo: daqui a dois meses, o meu bebê já terá nascido!
— Eu compreendo a senhora, mas não há vagas. O que eu posso fazer? As coisas no SUS funcionam assim mesmo!
Acostumada com problemas dessa natureza, a recepcionista se mostrou indiferente, talvez não por maldade, mas para conseguir sobreviver naquele trabalho, e disse:
— Próximo!
Essa crônica faz parte do livro “Fala sério” que será lançado em fevereiro.








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