
Por Nelson Neves - Pedagogo, Pós-graduado em Coordenação Pedagógica, Escritor de Literatura Infanto-Juvenil e de Romance
Uma moça foi convidada para participar de um comercial de uma determinada marca de refrigerante. Como todos sabem, toda propaganda tem a função de persuadir as pessoas com o objetivo de vender um produto. No caso do refrigerante, o objetivo era, naturalmente, vender o próprio refrigerante.
Outra estratégia utilizada pelos publicitários é envolver personalidades influentes, como artistas, jogadores de futebol e modelos, nos comerciais. Associar uma marca a alguém famoso tem sido o ponto-chave para alavancar vendas. Prova disso é o consumismo exacerbado que se observa atualmente.
O fato é que a moça escolhida para protagonizar a propaganda desse refrigerante não fugia à regra: era alguém notório. Para ser mais preciso, tratava-se de nada mais, nada menos do que uma atriz de Hollywood, e uma das mais famosas, por sinal.
O comercial deveria seguir o seguinte roteiro: a atriz chegaria para gravar um filme no qual interpretaria uma revolucionária que lutava contra o crime organizado em uma determinada região. Por conta desse ativismo, seria capturada pelos chefes, que planejavam puni-la com o castigo que, segundo eles, era mais do que merecido: a execução.
No momento crucial, o chefe da operação deveria dizer: “Concedo-lhe um último pedido.” A atriz, então, responderia: “Traga para mim um refrigerante...” Uma caixa do refrigerante solicitado seria trazida, e os criminosos se distrairiam ao começar a tomar o refrigerante também. Aproveitando a situação, a revolucionária fugiria. Naturalmente, levaria consigo uma latinha do refrigerante. Durante a fuga, abriria a lata, tomaria um gole e declararia: “Hum! Ninguém resiste a esse refrigerante.”
Esse comercial seria transmitido em quase todo o mundo, nos principais canais de TV e na internet. Tudo estava preparado para a execução da campanha publicitária, que tinha um único objetivo: persuadir as massas a consumir o refrigerante.
Só faltava a atriz principal chegar para dar início às gravações. Após meia hora de atraso, ela chegou com algumas folhas nas mãos, repassando o texto. Os atores secundários já estavam presentes e a postos, assim como os figurantes.
Com a chegada da atriz principal, tudo estava pronto para começar as gravações. Ou melhor, estaria, caso ela não tivesse identificado — ou talvez “criado” — um problema que considerava gravíssimo.
Com segurança, declarou em bom tom:
— Estou vendo muita gente, mas não vejo o meu dublê.
O diretor retrucou:
— Não será necessário dublê. Não há nenhuma cena perigosa.
A atriz insistiu:
— Claro que há uma cena perigosa. Perigosíssima para a saúde.
— Vamos voltar ao texto, senhora — sugeriu o diretor.
O texto foi analisado cuidadosamente, e, sob o ponto de vista do diretor, não havia nenhuma cena que pudesse ser considerada perigosa. Isso indignou ainda mais a atriz, que chegou a ameaçar desistir das gravações. Nervosa, ela apontou para a parte do texto que, segundo sua interpretação, oferecia perigo e exigia um dublê. Com firmeza, afirmou:
— Veja esta parte em que preciso de um dublê. Aqui está descrita uma situação que coloca minha saúde em sério risco. Sem um dublê, eu não gravo!
Muito alterada, a atriz leu em voz alta o trecho do texto que, na sua opinião, justificava sua exigência. Todos puderam ouvir claramente a seguinte passagem: “... abrir a latinha e tomar um gole de refrigerante.”
Imediatamente, um dublê foi providenciado.








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