CRESCIMENTO DO PROTESTANTISMO NO BRASIL
- jjuncal10
- 7 de mai. de 2023
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JEFERSON FRANCO, escritor (União Brasileira de Escritores (UBE) 2.720/1984), palestrante, poeta, biógrafo, inventor, chef de cuisine não profissional, metalurgista e advogado atuante, Kardecista e Rosacruz, normalizador de trabalhos acadêmicos de nível superior (graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado) conforme Comitê Brasileiro 14 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (Informação e Documentação), autor dos livros de poemas “POESIA GERAL E INCOMPLETA” (1983), “APENAS MAIS POESIA” (2010) e do livro técnico “COMO ELABORAR TRABALHOS ACADÊMICOS NOS PADRÕES DA ABNT APLICANDO RECURSOS DE INFORMÁTICA”
E-mail: franco.jeferson@gmail.com
PARTE 3/3
O Censo de 2010 revelou o crescimento significativo da população evangélica no Brasil que passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. Dos que se declararam evangélicos, 60,0% se disseram de origem pentecostal, 18,5%, evangélicos de missão e 21,8 %, evangélicos não determinados. Segundo este mesmo censo, diminuiu o número dos que se designaram católicos ao longo da última década e aumentou o número dos que dizem não ter religião. Estes números apresentam um Brasil bem diverso daquele que prevalecia até o último decênio do século XX. O crescimento da população evangélica parece ser uma das maiores mudanças em termos de visão de mundo ocorridas nos últimos vinte anos no Brasil. (MAGGIE, Op. Cit., p. 1).
Destaque-se ainda que, atualmente, no Congresso Nacional brasileiro (que é a união das casas de leis Câmara dos Deputados (deputados federais) e Senado Federal (senadores)), a chamada bancada evangélica é composta por setenta e cinco deputados federais e três senadores, entre eles bispos, pastores e parlamentares leigos que professam alguma denominação protestante. (GONZATTO, Marcelo. Bancada evangélica ganha força inédita no Congresso. Ala religiosa elegeu 78 parlamentares, tem a presidência da Câmara e segue em busca de mais espaço. Zero Hora Notícias. Religião e política. Jornal on line. 23/02/2015. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/02/bancada-evangelica-ganha-forca-inedita-no-congresso-4704350.html>.).
Há três anos, o Serviço de Evangelização para a América Latina, organização protestante de estudos teológicos conhecida pela sigla SEPAL, estimou que a metade dos brasileiros seria evangélica até 2020. Mas o crescimento protestante parece ter atingido o seu ápice nos anos 1990, quando o número de fiéis aumentou 71%. Na década seguinte, a expansão diminuiu o ritmo e ficou em 41%. O boom evangélico estaria próximo do fim? “Não dá para tratar uma expansão tão acentuada como algo banal ou como a expressão de um enfraquecimento deste segmento religioso”, afirma a socióloga Christina Vital, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER). “Seria um grande equivoco dizer isso, já que se trata de um crescimento de mais de 40%!”. (MARTINS, Rodrigo. Protestantismo à brasileira. Os evangélicos já somam um quinto da população e exercem mais influência na sociedade do que se imagina, analisa especialista. Carta Capital. Ed. 23/07/2012. Coluna Sociedade. Disponível em: <www.cartacapital.com.br/sociedade/protestantismo-a-brasileira/>., p. 1).
“Os 75 deputados evangélicos e os 3 senadores superam bancadas importantes como a sindical ou a feminina, buscando ainda conquistar postos-chave no Congresso.” (GONZATTO, Op. Cit., p. 1).
Sobre as tendências de futuro, considerando os números apresentados na presente pesquisa associados às afirmações de José Eustáquio Diniz Alves (2012), no estudo “A dinâmica das filiações religiosas no Brasil entre 2000 e 2010”, as religiões protestantes tem na maioria dos fiéis jovens e mulheres em idade fértil, a projeção é de que até o ano de 2040 o número de seguidores da religião Católica seja ultrapassado pelos fiéis das igrejas protestantes.
Outra influência direta neste avanço é a composição da bancada evangélica no Congresso Nacional, uma vez que os deputados e senadores são formadores de opinião e tem à sua disposição recursos financeiros e possibilidade de executar ações políticas e sociais que influenciem diretamente a percepção política e as opções de voto da população beneficiada.
Com relação aos motivos que podem ter levado ao crescimento do protestantismo nos anos 90 no Brasil, Cristina Vital, a socióloga Christina Vital, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER), em entrevista à Carta Capital, em 2012, assim declarou:
O aumento de décadas passadas estava referido a um contexto de mudanças na sociedade ao longo da década de 1980 e que se refletiria no Censo de 1990: êxodo rural (os evangélicos são mais presentes no meio urbano) e a forte rede de solidariedade que os evangélicos oferecem para estes que estão, muitas vezes, longe da família. Também o crescimento dos evangélicos no espaço público seja através da política, seja através da presença na mídia televisiva, além da nova perspectiva cristã que o surgimento dos neopentecostais ofereceu para os que já estavam acostumados com a mensagem bíblica nas igrejas evangélicas históricas, nas pentecostais mais tradicionais ou mesmo no catolicismo. (VITAL apud MARTINS, Op. Cit., p. 1).
Ou seja, a socióloga confirma detalhes já apontados pelo presente trabalho, acrescentando a questão do êxodo rural na década de 1990 e um trabalho de apoio das igrejas protestantes neopentecostais direcionado para estas pessoas, assim como a entrada destes grupos de igrejas na mídia, principalmente com a compra e aluguel de espaços em canais de televisão com grande audiência, praticando um forte apelo de marketing dirigido àquelas pessoas que estavam desencantadas com as demais denominações religiosas existentes na época, associado à ampliação da participação de protestantes no cenário político local, estadual e nacional, buscando defender via representatividade no Poder legislativo os interesses destes grupos religiosos.
O elemento central das várias controvérsias em curso foi o segmento neopentecostal. Estas controvérsias atingiram também, em termos de imagem pública, os pentecostais de modo geral. Mas, com todas as polêmicas e críticas em torno das doutrinas e rituais evangélicos, eles continuaram em crescimento. Assim, eram 3,4% em 1950; 4% em 1960; 5,2% em 1970, 6,6% em 1980, 9% em 1990; 15,5% em 2000 e agora atingiram 22% da população nacional. Para além de pensar no crescimento percentual que é expressivo, saliento, vale uma reflexão sobre o papel que este segmento religioso tem em nossa cultura. (VITAL apud MARTINS, p. Cit, p. 1).
Destaca ainda a socióloga o reflexo deste avanço do número de protestantes no Brasil no ambiente cultural, alterando comportamentos e cirando novas oportunidades de reunião e culto para pessoas que, repetimos, encontravam-se desencantadas com os discursos e com a metodologia aplicada pelas várias denominações religiosas até então existentes, com novas abordagens e uma participação mais estreita e próxima dos fiéis.
A chamada “flexibilização dos costumes entre os evangélicos” também é apontada pela socióloga Cristina Vital (apud MARTINS, Op. Cit., p. 1) como :”É fato que as igrejas evangélicas, pela descentralidade que caracteriza este universo, em oposição à Igreja Católica Apostólica Romana, são mais flexíveis. As igrejas evangélicas têm grande capacidade de se adaptarem ao público alvo desta e daquela denominação. Adaptam-se em termos discursivos, doutrinários e ritualísticos ao meio urbano e ao meio rural, às minorias (lembrando que há igrejas evangélicas chamadas inclusivas, isto é, que são dirigidas por gays), etc. No entanto, não vejo esta flexibilidade como uma continuidade em relação a padrões culturais existentes. O mundo evangélico é de acolhimento, de aproximação para a transformação para os padrões morais que professam.”
Portanto, a questão da possível flexibilidade da atuação das igrejas protestantes em relação aos ritos, discursos, à possibilidade de aceitação de componentes dos grupos alcunhados de minorias e a outras facilidades se comparado com a rigidez com que são conduzidas algumas denominações religiosas, pode ser também associada à ampliação do número de protestantes no Brasil nas últimas décadas.
Pierucci afirma que concepções religiosas como o pentecostalismo crescem em momentos de modernização excludente, “promissora, mas frustrante.” Nesse sentido, a religião supre uma lacuna deixada pelo mundo profano, gerando a experiência da conversão, que não se limita apenas a uma atitude religiosa, mas nasce de algo que lhe é exterior, ou seja, de um sentimento de dissociação com o mundo profano. Pierucci enfatiza que a religião não se traduz apenas em crença, mas em elementos culturais multifacetados e criativos; manipulando símbolos também diversos, esta interage com outros campos sociais pela redefinição que efetua de valores e identidades, que, no caso da religiosidade pentecostal, valoriza a interioridade do próprio converso, colocando-o numa comunidade (congregação) de crentes onde, através do compartilhamento de sentimentos comuns, passa a se sentir seguro das contingências do que é externo ao grupo. (SOUSA, Bertone de Oliveira. “Até aqui nos ajudou o Senhor”: Análise histórica do crescimento da Assembléia de Deus em Imperatriz-MA. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009. Disponível em: <http://www.dhi.uem.br/gtreligiao>, p. 217).
A atuação de qualquer denominação religiosa deve ser contextualizada em relação à questão social, sob pena de não refletir a realidade proporcional em que vive o público alvo que se pretende atingir e, no caso brasileiro, com o fim da ditadura militar que durou de 1964 até aproximadamente 1985 (destacando-se que a hegemonia da Igreja Católica era afirmada pelos militares que comandavam a nação com mão de ferro), associado à promulgação da Constituição da República Federativa Brasileira em 1988, confirmando o direito à crença, proliferando-se a criação e participação de cada vez mais pessoas em grupos religiosos que, além de cuidar da questão espiritual interna, também se preocupava em buscar apoio à solução de problemas materiais, externos às congregações.
À guisa de conclusão, considerando-se a raiz histórica da religião católica no Brasil e as alterações políticas, econômicas e sociais identificadas desde a colonização até a atualidade, percebe-se que da década de 1970 até 2010 houve um crescimento histórico tanto das denominações protestantes quanto do número de fiéis, com reflexos naturais em todas as áreas da economia, incluindo-se aí a política, tendo as denominações protestantes uma bancada composta somente por evangélicos no Congresso Nacional brasileiro.
Conforme informação de Alves (apud PRATES, Op. Cit.), a tendência é de que até o ano de 2040 a hegemonia da religião católica seja superada pelas Igrejas Protestantes. Este crescimento pode estar atrelado às questões econômicas já anunciadas pelo filósofo Max Weber sobre a ética protestante e o espírito do capitalismo.
Ou seja, nunca antes a necessidade de que nós, humanos, brasileiros, esclarecidos e política e economicamente ativos pratiquemos a tolerância foi tão evidenciada quanto atualmente, o que nos deve levar a raciocinar sobre como temos nos comportado em relação a esta temática de vital importância e relevância nas relações intersubjetivas do cotidiano...






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