
RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Não guardo boas recordações do dia dos namorados. Lembro-me de quando completei 18 anos de idade, atleta, estudante de Escola Técnica Federal, comunicativo... cheguei a ter quatro namoradas ao mesmo tempo. Contudo, órfão de pai, não dispunha de grana para presentear todas no dia dos namorados. Sobravam duas alternativas: acabar com os namoros antes do dia ou aguardar o dia e dividir com elas um buquê de flores que gaúcha Isaura enviava para minha casa. Eu retribuía as flores de Isaura levando-a ao Cine Monte Castelo. Isaura era bem mais alta do que eu, e passear com ela de mãos dadas me incomodava, mas era o jeito. A outra alternativa era colocar uma mensagem no potente serviço de alto-falante do meu bairro - Voz Araçagi - com os seguintes dizeres: alguém de olhos verdes oferece esta música para Zequinha, filho de Dona Cecilia, com muito amor! Eu ficava repugnado pelas demais namoradas, menos por Lucinéia, a única dos olhos verdes, que afirmava ser dela a referida mensagem sonora pela lembrança do dia dos namorados. E, dessa forma, eu passava o dia dos namorados com a mentirosa Lucinéia, pensando como fazer para reatar logo os demais namoros... um canalha? Não! Apenas um rapaz de coração muito receptível.
Sentia-me o Dono do Pedaço, até que, em uma excursão do time de Futsal da Escola Técnica à cidade de Campo Maior, no Piauí − no dia dos namorados −, após o jogo, iniciou-se meu namoro com Maria do Rosário, filha de um próspero fazendeiro de bode daquela região. Maria do Rosário apaixonou-se a ponto de convencer o pai a bancar seus estudos em São Luís, para ficar perto de mim. Meu coração também passou a bater só para aquela piauiense. Logo nosso namoro tomou proporções de noivado. Dessa forma, abdiquei das demais namoradas. Eu estava no último ano do Curso Técnico em Pontes e Estradas, e Maria, do Rosário, iniciando o Curso Normal.
Maria do Rosário, em São Luís, morava na casa de uma tia, no bairro Felipinho, a 8 Km da minha casa, convivendo com duas primas e um primo, todos adultos (sempre detestei primo de namorada). Notei que a tia da Rosário não via com bons olhos o meu namoro com a sobrinha, como também percebi a pretensão da megera de casar a sobrinha com o filho dela, talvez para ocupar a vida desocupada deste. Chamava-se José Raimundo, não trabalhava, não estudava e era viciado em jogo a dinheiro. Malandro! Maria do Rosário o detestava, e eu idem.
Concluí o curso Técnico em Pontes e Estradas e Maria do Rosário passou para o segundo ano Normal. Quando já procurávamos casa para morarmos, fui cogitado para um estágio na empresa ECL Engenharia, do Rio de Janeiro. Eu precisava de seis meses do estágio para concluir o quarto ano do curso técnico, receber o meu diploma, registrá-lo no CEAA e passar a trabalhar devidamente credenciado. Na época, um status de engenheiro operacional. Debaixo de choros e de muitas juras de amor, parti de São Luís do Maranhão para o Rio de Janeiro, no início de 1973. Comecei o estágio na Ponte Rio – Niterói, em seguida, no Laboratório de solos do DER-RJ, em Niterói, depois segui para concluir o estágio no Rio Grande do Sul, na execução da rodovia BR-293, Pelotas – Bagé (estrada do presidente Médici). As cartas, única maneira de nos correspondermos na época, eram duas por mês nos primeiros meses. Em abril, recebi uma carta na qual a Maria do Rosário dizia que tinha de estudar muito para não perder o ano. Sentindo-me culpado, achei prudente ficarmos sem correspondência até o final do estágio. Dois meses. Concluí, meu estágio com méritos, no dia 10 de junho. No dia 12 de junho, dia dos namorados, voei ansioso do Rio Grande do Sul para São Luís. Cheguei à casa às 17h, e às 19h parti na Rural Willys do meu irmão para a casa da Maria do Rosário, bem vestido, perfumado e com o presente do dia dos namorados, comprado em Sant´Ana do Livramento no Uruguai, a 160 Km de Bagé (na época, nosso cruzeiro valia quatro vezes o dinheiro de lá). O presente de Maria do Rosário era uma blusa e uma calça Blue jeans. Passava pela minha cabeça, naquele dia dos namorados, pedi-la em casamento. Cheguei ao Felipinho, parei a rural em frente à casa da tia da Maria do Rosário, dei a última olhada no espelho, peguei os presentes, saí do carro, adentrei a área da casa e toquei a campainha. O coração, em festa, pipocava de expectativa. Surgiu na porta Dona Conceição, a doméstica da casa, que gostava de mim, até por levar sempre cigarros para ela. Quando me viu, quase teve um chilique. Levou as mãos à cabeça e, antes que ela dissesse alguma coisa, entreguei o presente dela, dois panos de seda para cabeça, e disse:
─ Mesmo muito longe, lembrei-me da senhora! Espero que goste!... Por favor, chame Maria do Rosário, mas não diga que sou eu!
Não sei se ouviu minha voz, só sei que surgiu na porta, tomando a frente da pasma Dona Conceição, Maria do Rosário grávida, com uma aliança na mão esquerda e, numa atitude comovente, tentou explicar o inexplicável:
─ Pelo amor de Deus, me ouve!... Deixa eu te explicar!... Eu te...
Saí apressado dali e fui para uma praia curtir o pior dia dos namorados da minha vida. Tinha presente para dar, mas não tinha namorada para receber. Pensava: Só podia ser praga das minhas quatro ex-namoradas. Fazer o quê?... Saber perder!... Aquele era o dia das caças!
Soube que, no dia seguinte, Maria do Rosário foi a minha casa, mas eu já “voava” com destino ao Rio de Janeiro para assinar contrato com empresa ECL Engenharia e seguir para Brumado – Bahia, participar de execução do projeto geotécnico da Estrada BR – 030 (trecho: Brumado – BR-116). Portanto, dia dos namorados?... NÃO!!!







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