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FEIA NA ACADEMIA DE GINÁSTICA


RIBAMAR VIEGAS


ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO, TÉCNICO EM PONTES

E ESTRADAS, INSTRUTOR DE DIREÇÃO DEFENSIVA

E CONDUÇÃO, ESCRITOR.










Achar-se a mais interessante, a mais atraente, o centro das atenções e agir de forma deseducada, inconveniente, sem pudor e até com racismo são atributos de uma pessoa indesejável em qualquer lugar do mundo. De uma pessoa feia no seu interior.

Antes da pandemia, frequentei uma academia de ginástica de pessoas normais, amáveis e educadas, contudo havia uma exceção. Era do sexo feminino, branca, baixa, feia e bruta. Arrogante no trato e nas atitudes. Eu já a conhecia de vista. Fora pobre e andava sempre apressada como se tivesse atrasada para algum encontro. Atualmente anda de carro.

Quando a vi na academia, mesmo tentando fazer vista grossa diante do comportamento enigmático da dita figura, as evidências falaram mais alto. Sem dúvida, tratava-se de uma criatura repugnante, dessas que gostam de aparecer humilhando e pisando os humildes. E para completar, um dia, testemunhei-a no bebedouro esbravejando:

— Esse negro nojento deveria procurar o lugar dele! ─ olhei fechado para ela, e ela rosnou:

— Não estou falando com você! (Achei prudente não lhe lembrar que racismo é crime).

Pois é, tratava-se de uma mulherzinha feia no corpo e na alma. Insuportável até quando se exercitava. Achava-se o máximo chamando o instrutor da academia aos berros:

— Professor, a maromba está desregulada! Professor, aperta a trava desse acento! Professor, traga dois alteres de dois quilos pra mim! ...

Parecia dona de tudo. Sempre que alguém estava exercitando-se em algum aparelho, ela chegava junto:

— Vai demorar muito? Faltam quantas? Tô esperando! ... Desprovida de qualquer gentileza. E quando algum desavisado arriscava um bom dia a um grupo em que ela se fazia presente, os demais respondiam ao cumprimento, ela fazia um bico com os beiços ou temperava a garganta com hum, hum, hum, num misto de superioridade e descaso. Era gritante a arrogância daquela diminuta senhora.

Foi numa segunda-feira, pela manhã. Cheguei à academia, e havia um tumulto na portaria. Cerca de dez pessoas protestavam com a demora para entrar. Era ela achando ruim com o porteiro por cobrar-lhe a mensalidade atrasada. Completamente possessa, ela berrava:

— Pois fique sabendo que posso comprar essa porcaria só pra lhe demitir se você não liberar essa merda pra eu entrar agora, seu imundo!

E como a catraca da portaria só dava acesso após o ok da impressão digital que indicava o pagamento em dia, a imperiosa madame, ao agachar-se de súbito para tentar passar por baixo, soltou um sonoro e demorado pum, provocando o tapar de narizes dos presentes, os inevitáveis sorrisos irônicos e a proclamação triunfal do humilhado porteiro, à Tião Macalé:

— NOJENTA!!! ─ seguido dos sussurros dos presentes, inclusive meu — Nojenta! Nojenta! ...

Tal qual uma barata cascuda, a feia saiu sorrateira entre as pessoas na portaria da academia de ginástica para nunca mais voltar.

Que alívio!



 
 
 

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