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MEU ADEUS, BASTIÃO


JOSÉ WALTER PIRES -

SOCIÓLOGO, ADVOGADO, POETA, CORDELISTA E ESCRITOR

MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE CORDEL


Estou em Goiânia, numa excursão, agora, em um ônibus, indo para Caldas Novas, quando recebi a mensagem da amiga Maristela, a caçula do clã Cardoso, anunciando a "triste partida" do meu amigo e guru Bastião Véio, como carinhosamente o tratava.


Amigo e companheiro das nossas tertúlias, dos causos brumadenses, do conhecimento da sua gente, a partir de um jogo, no qual era dado o nome de alguém por ele e eu teria de dar outro em troca, para efetuarmos o negócio. O valor teria de ser equivalente, podendo juntar mais outro, até o negócio efetivar-se. Era muito engraçado, e nos divertíamos até altas horas da noite, com as luzes a motor, que desde às dez estavam apagadas.


Quando, um dia, quis retornar para Salvador, a fim de continuar os meus estudos, ele fincou pé, dizendo que não iria embora, não. Desse desejo, juntamente com outro influente amigo, conseguiu para mim, uma entrevista na Magnesita, da qual me saí bem, ingressando, em seguida, no seu quadro de colaboradores. Como fui feliz, nos vinte e dois anos seguintes nessa Empresa, que foi marcante para Brumado, ao lado da ferrovia, do algodão e da estadualização do Colégio, para o qual compus a sua Diretoria, à disposição da Secretaria de Educação do Estado.


Bastião, de opiniões, às vezes, contundentes, " com a sua boca de sabichão/boca de trombone/boca de cachaceiro/boca do cão”, como dele disse no poema que lhe foi dedicado, em nossos serões poéticos e literários.


Ele se vangloriava de ter sido o responsável pela minha dedicação ao cordel, o que foi verdade, pois antes, eu o escrevia aleatoriamente, sem observar as suas regras. Isso, ficou comprovado, quando cordelizei, o seu conto "A Pisa", o seu segundo livro, em trinta e duas sextilhas. Foi o meu avant première editorial.


Tempos depois, Bastião deu de vender as suas posses, em Brumado, como a saudosa Quixabeirinha, arribando-se da caatinga que tanto amava, indo para as Alterosas, com mulher e filhos, deixando para trás a sua vida interiorana, defendida e amada com o seu bairrismo ou mesmo com as contumazes críticas, que fizeram merecer os meus versos.


Ele era, assim, e tive de adaptar-me ao seu modus vivendi, e, então, nos demos bem, pela amizade recíproca, pelas costumeiras prosas telefônicas, pelos seus elogios ou não aos meus textos, sempre em primeira mão.


Escrevi muito para ele ou dediquei-lhe versos, sempre recebendo dele os incentivos, além de propagandear os meus escritos.


Vai me deixar muita saudade por tudo isso que pude expressar durante viagem do momento.


Meu adeus, Bastião Velho,

Até chegar o meu dia

Para a gente se encontrar

E sorrir com alegria

Depois fatalidade

Para toda humanidade

Se não for alegoria

.

Pode deixar mandarei

As notícias costumeiras

Ou contando os nossos causos

Com mentiras verdadeiras

Porque nunca nós mentimos

Só falando o que sentíamos

Dessas plagas brasileiras.

.

Se encontrar Moraes Moreira

Fale que mandei lembranças

E diga, - lhe que vou indo

Nas minhas mesmas andanças

Com as pernas meio brocas

E dores que não são poucas

Umas brabas, outras mansas.

.

Vou terminar por aqui

Com a saudade doendo

De Bastião, meu amigo

E de costume escrevendo

Estes versos num repente

Como meu coração sente

Enquanto aqui vou vivendo!

.

Até sempre, meu amigo!



 
 
 

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