NÃO ME PERGUNTEM NADA!
- jjuncal10
- 8 de jul. de 2023
- 3 min de leitura

RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Quinho, um baiano recondicionado em São Paulo, gente de fino trato, funcionário considerado na empresa em que trabalhava, pai de família exemplar, até porque vivia sob o jugo rígido da sua esposa, Dona Glorinha ─, cujas rédeas concebidas ao marido eram da casa para o trabalho e do trabalho para casa. Em suma: Quinho era um anjo querubim esculpido pela esposa, só para ela... Uma flor de carolice como ela o intitulava na vizinhança. Mas Quinho sonhava em poder um dia sair pela noite, curtir a sensação de entrar em um bar tomar várias cervejas, bater-papo, conhecer outras pessoas... Tudo sem Dona Glorinha por perto, claro!
Foi aí que o Satanás resolveu entrar na jogada e tornar realidade o devaneio do prendado baiano Quinho.
Houve uma feira de exposição na cidade, e Quinho fora convocado para dissertar ao público sobre a qualidade dos produtos da empresa em que trabalhava.
No primeiro dia do evento, após fechar o concorrido stand da sua empresa, por volta das 23h, Quinho, sem Dona Glorinha por perto como ele tanto almejava, estufou o peito, entrou no seu automóvel Gol e, intuitivamente, foi direto para a zona do baixo meretrício.
Sem maiores explicações, Quinho adentrou o puteiro e mandou fechar a porta daquele estabelecimento − tudo por sua conta − e lá as coisas aconteceram. Coisas de fazerem as pecaminosas cidades de Sodoma e Gomorra sentirem-se o próprio Vaticano. Quinho encarnou um imperador romano e transformou as raparigas em suas escravas do sexo. E foi orgia de causar inveja ao alucinado imperador Nero e ao inveterado enófilo Baco. Dentro do ambiente, todos sem roupas e de copos nas mãos; do lado de fora, o carro de Quinho virou a biga imperial para transporte de prostitutas, transformistas, gays, pansexuais, multissexuais... Todos para abrilhantarem aquela noite do novo imperador do puteiro.
O dia raiou e, lá pelas 10h da manhã, Dona Glorinha, vizinhos, colegas de serviço, polícia e cães farejadores vasculhavam todos os lugares possíveis onde poderiam encontrar Quinho vivo ou morto. Hospitais, IML, pontos de desovas... Às 13h, o desespero de todos, principalmente de Dona Glorinha, Já era incontrolável. O médico da empresa já se fazia presente socorrendo os desmaiados...
E Quinho, lá no prostíbulo, onde ninguém jamais iria procurar um anjo querubim, uma flor da carolice, uma figura impoluta curtia eufórico mais um strip-tease em sua homenagem, balançando as pernas para cima rolando no dedão do pé, a última peça de roupa de uma “artista” gaúcha convocada às pressas para enaltecer ainda mais os momentos de festim daquele novo Calígula.
Já passava das 15h quando Quinho, num bagaço de fazer inveja a qualquer folião na quarta-feira de cinzas, chegou a sua casa. Passou pelos atônitos olhares dos vizinhos aglomerados na sala, encarou Dona Glorinha e falou alto e em bom tom para que todos ouvissem:
─ Não me perguntem nada! Eu não sei de nada! Já basta o que me aconteceu! − e jogando-se na cama, concluiu:
– Fui sequestrado pelo Satanás, mas Deus me resgatou! E adormeceu sonhando com Neuzona, Sandrinha, Edileusa, Creuza, Gaúcha, Paulete, Sacha, Juventino Boa Bunda, Paloma...
Dona Glorinha apagou a vela que queimava sob a imagem de São Longuinho, deu três pulinhos em agradecimento ao Santo pelo seu precioso achado, dispensou os presentes e defumou a casa com vasto incenso de sálvia para afugentar Satanás.







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