top of page
Buscar

O PREÇO DA LIBERDADE


MARCELO BRASILEIRO - CIDADÃO

Militar da reserva das forças armadas - Advogado com especialização em direito Marítimo, Direito Ambiental

Pós graduado pela Escola da Magistratura do Estado do Espírito Santo


Quando ainda muito jovem e ao adentrar os portões do um quartel para cumprir o serviço militar obrigatório (mas fui voluntário!), uma das frases - dentre as tantas que vi estampadas nos muros e pátios internos me chamou atenção.  

  

Tenham em conta de que, naquele momento, eu não era algo mais que um pós-adolescente, ainda muito garoto como qualquer outro na mesma faixa etária na qual corpo e mente ainda estão em crescimento e aperfeiçoamento.  

  

Aos dezoito ou dezanove anos um homem não é nada daquilo que ele pensa ser. 

  

Logo eu, garoto da periferia e que ali estava como fruto (um caldo) das mais várias influências recebidas; daquelas que vinham dos pais, do padre, do dono da padaria, do mecânico que consertava o carro da família e que demonstrava seu orgulho e satisfação em nos dar bons conselhos de como seguir na vida, de ser um homem de bem e um cidadão honrado. 

  

Tantos conselhos e tantos exemplos.  

  

Tantos bons conselhos e tantos exemplos! 

  

Bom, foram várias as influências e circunstâncias, às quais e que por força de si mesmas me conduziram até aquele ponto e naquele lugar. Afinal, não teria sido um afamado filósofo, poeta e ensaísta (José Ortega y Gasset) quem escrevera sobre isto: "Eu sou eu e minha circunstância."? 

  

Então... eu estava ali; no lugar onde li a tal frase que tanto me inspira até hoje e pelo visto, continuará a inspirar e a conduzir meus pensamentos até o último instante de vida. 

  

Junto com a tal frase me veio - também por força das recebidas influências e das circunstâncias vividas, se não seria ela também uma admoestação de censura e de medo. Algo assim como um aviso de Cuidado! Nós estamos te observando e vigiando. (...) 

  

Mas não era nada disso. Não havia o que temer. Fosse da parte do autor ou mesmo daquele que escreveu a tal frase no muro do quartel.  

  

Eu era apenas um jovenzinho franzino, impetuoso n'alma, mas e ao mesmo tempo compelido ao acanhamento de estar ante à presença do novo e infinitamente superior a mim. 

  

Todos ali, com exceção dos iguais e mim, eram mais fortes, mais robustos e serenamente experientes e eu os tinha de acatar. Era eu o neófito. Eu estava ali para aprender e via, sabia que todos os demais - inclusive os iguais a mim, para me ensinar.  

  

O tempo passou, cresci em estatura e conhecimentos bem próprios de todas as novas influências e circunstâncias vividas e nesse tempo, aprendi que a ignorância - que é antônimo do conhecimento, cobra um altíssimo preço daqueles que lhe servem na continuidade da condição de escravos.  

  

Escravos do medo, escravos dos vícios, escravos da própria arrogância e soberba.  

  

Os politicamente escravizados, inclusive.  

  

Aprendi que a quase totalidade dos males da vida, fora aqueles de causas naturais que acometem desde bebês mal nascidos aos votos de longa existência, a ignorância (o desconhecimento) é a pior e mais vexaminosa desgraça que tem se abatido sobre todos os povos, em todas as civilizações de todos os tempos e neste contexto, aquela frase que até hoje marca os meus pensamentos ganha, a cada novo dia, mais força de significado e importância.  

  

Já foi dito que o tempo enferruja o metal, apaga a memória e nos faz baixar a guarda. Mas a ignorância age como continua ferrugem que tudo trava e empesteia, que ao abismo conduz o ignaro e o condena, por fim, a sucumbir ante a todo golpe traiçoeiro, eis que suprime qualquer possibilidade de estratégia defensiva. 

  

O ignaro é, antes de tudo um vulnerável.  

  

Todavia, a chama do conhecimento, tal qual tocha que vai alumiando o tortuoso caminho dessa nossa longa caverna existencial, se não nos impede de tropeçar, ao menos nos mostra o melhor a fazer após levantarmos e prosseguir, vigilantes. 

  

Creio que será ao prudente e vigilante muito difícil cair ou pouco provável tornar a cair. 

  

Ao final e retornando à tal frase, mais que simplesmente grafada em um muro de fundo verde-oliva preponderante, ela frase fora em definitivo gravada em meu coração e como renovo de consciência, me diz que: 

  

"O preço da liberdade é a eterna vigilância." 

 








 
 
 

Comments


bottom of page