O “SURDO-MUDO” E AS NOVIÇAS CANADENSES
- jjuncal10
- 27 de abr.
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RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Somente aqueles que interessam e os catequizados acreditam que basta cobrir a cabeça de uma jovem com um véu branco e, por cima, uma touca preta para que ela deixe de ser fêmea e, assim, não sinta mais os desejos do seu sexo, como se o fato de se fazer noviça (freira jovem) transformasse carne em pedra. Como também, se a clausura de um convento eliminasse a natural força tentadora que exerce sobre todo ser humano ocioso − uma sexagenária, tudo bem, mas uma jovem de 18 anos, nunca!
Esta quem me contou foi o próprio protagonista da estória:
Nos idos de 1970, um velho que cuidava do jardim, horto e bosque de um convento que existia em uma das bela praias de São Luís do Maranhão ─ clausuro de seis jovens noviças canadenses, todas com menos de 20 anos e uma esbelta abadessa gaúcha com cerca de cinquenta anos ─, comentava sua renúncia do emprego pelo fato de não aguentar mais os serviços e as inquietações das jovens freiras, sempre com os nervos à flor da pele, a ordena-lhe: “Tira isso daqui”; “joga isso no lixo”; “não é assim que se faz”; “ ponha isso no lugar”... o jovem Januário, caboclo forte, bem aparentado e astuto, a tudo ouvia sem demonstrar seu aguçado interesse pelo assunto, mas, dando asa a sua infinda imaginação, deduziu: “o convento é longe daqui e lá ninguém me conhece”.
Com o seu plano em mente e uma trouxa de roupas nas costas, Januário foi recebido no portão do convento pela abadessa e, por meio de gestos, como fazem os surdos-mudos, ele pediu um prato de comida pelo amor de Deus e mostrou, também com mímica, que, se fosse necessário, gostaria de rachar a lenha em troca. A abadessa, satisfeita com a ideia, deu-lhe de comer e mostrou-lhe troncos de madeira para lenha que o velho jardineiro não conseguira partir. Januário, em pouco tempo, reduziu tudo em pedaços. E, dessa forma, realizou outras tarefas durante o dia. No final da tarde, a abadessa o contratou para ficar trabalhando no convento, convoco as noviças, comunicou a novidade e fez as devidas recomendações:
─ Este pobre surdo-mudo doravante será nosso jardineiro. Apesar da sua surdez e do seu tipo palerma, ele pode não ser um abstinente, portanto...
Fingindo não escutar, Januário ouviu o sermão da abadessa, também o zunzum das noviças zombando dele com palavras sujas, explícitas e gestos indecentes. Januário comportava-se como se fosse uma estátua em movimento, e elas riam dele por não poder assimilar nada. Um pobre coitado!...
Com uma semana no convento, Januário, depois de concluir seu trabalho, descansava à tarde, à sombra de um flamboyant, fingindo estar dormindo, com o macacão aberto até abaixo do umbigo. Duas noviças chegaram aonde ele estava e, observando o corpo seminu de Januário, uma disse:
─ Não sei se acontece o mesmo com você, mas, olhando para o corpo deste mudo, deu-me uma vontade de aproveitá-lo para tentar sentir com ele o prazer que uma mulher deve sentir com um homem. Com ele seria bom porque delatar ele não vai poder.
─ Oh! Você esqueceu que prometemos nossa virgindade a Deus? − Lembrou a outra.
─ Ah! – insinuou a proponente ─ quantos votos são feitos todos os dias, para jamais serem cumpridos? Vamos só tentar? – só tentar, eu topo! ─ concordou a outra.
Após certificarem-se de que não havia ninguém olhando, pegaram nas mãos de Januário ─ que a tudo escutava mais disposto do que noivo de virgem em lua de mel ─ foi conduzido pelas duas à cabana onde ele se abrigava. Elas combinaram: enquanto uma ia para o interior da cabana, a outra ficava de guarda do lado de fora. E, dessa forma, as duas noviças provaram e aprovaram o “pão” de Januário naquela tarde. Daquele dia em diante, no mesmo horário, as duas passaram a conduzir Januário para a cabana.
Até que veio o dia em que uma irmã de sua cela avistou o que faziam aquelas duas e, chamando as outras três, mostrou-lhes o que via; o primeiro pensamento foi contar tudo à abadessa. Depois de confabularem, acharam melhor entrar em acordo com aquelas e assim participar dividindo os favores e atenção do jardineiro surdo-mudo em justa sociedade. Dessa forma, as quatro também passaram a comparecer na cabana de Januário, de duas em duas, nos horários combinados. Por fim, a abadessa, que nada sabia do que acontecia entre as seis noviças e o jardineiro, também solitária, andando pelo bosque, encontrou Januário deitado na mesma sombra, quase desnudo do macacão. Ela foi ríspida, exigiu que ele se compusesse imediatamente e fosse para a cabana. Januário ficou apreensivo, mas, à noite a abadessa foi à cabana cheia de precaução, conduziu Januário para o quarto dela e... depois passou a querer o jardineiro só para ela, provocando desconsolo e revolta das seis noviças, que ficaram com suas hortas no mais completo abandono. Januário, sentindo-se impedido de oferecer seus “préstimos” às demais religiosas, desfez-se da condição de surdo-mudo, que tanto o ajudara, e falou dramatizando para abadessa:
─ Senhora, tive uma doença que me fez perder a audição e a fala, mas hoje me ocorreu um milagre e voltei a escutar e falar. Sou um pobre desgraçado, contudo, tento, pelo menos, ser prazeroso para sete mulheres na mesma casa, porém tem uma que está querendo todo o meu tempo só para ela. Para não causar transtorno em família, peço-lhe para me deixe ir com Deus e com sua bênção.
A abadessa, confusa com a veracidade do milagre e do que ocorria entre ela e o jardineiro, cheia de maus pressentimentos, quis confirmar:
− Onde fica essa casa das suas sete mulheres?
O jardineiro Januário ajoelhou-se e, após beijar-lhe a mão como fazem os condenados em súplica, respondeu:
− Aqui!!!
(Por essas e por pedofilia de padres, que sou a favor de casamento de padre, freira, bispo...)







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