OS TRÊS GARIMPEIROS (Humor negro... ou branco)
- jjuncal10
- 12 de mar. de 2023
- 4 min de leitura

RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Foi nos tempos idos, na Chapada Diamantina. Juventino, Valadão e o jumento Orelhinha (tinha a orelha direita quebrada pra frente) após cinco anos cavando e carregando cascalho de um córrego subterrâneo sob a luz de candeeiro-placa para o local de lavagem a céu aberto, bateando debaixo de sol e chuva, alimentando-se apenas do café da manhã e de um moqueado na janta, dormindo em volta de fogueiras acesas para aquecerem o frio, afastarem mosquitos e outros bichos, faiscando apenas para pagar os pobres mantimentos e trocar as toscas ferramentas, finalmente, naquele dia, aqueles três garimpeiros bamburraram. (Três porque Juventino e Valadão consideravam o jumento Orelhinha um meia-praça). E bota bamburrar nisso! Cerca de 500 Quilates (100 gramas) de diamantes puros, transparentes, da melhor qualidade. Treze pedras bem definidas e sem fraturas. Uma fortuna. Era o fim da vida de cão no interior daquela lapa de pedra, cuja fenda da entrada − naturalmente camuflada por um denso espinheiro de quiabento − era tão estreita que só dava para passar um de cada vez. Sempre o jumento Orelhinha à frente empacando diante da presença de cobra, suçuarana e de outros bichos. Mas, enfim, estavam ricos! Todo sacrifício fora magnificamente compensado. Só precisavam sair daquela gruta sem despertar atenção, chegar ao centro da cidade de Mucugê e arranjar um lugar para descansar até o dia amanhecer. Pretendiam vender quatro pedras diretamente aos compradores gringos. Não tinham meeiros. Garimpavam num fundão sem dono e desconhecido de todos. Com a venda das quatro pedras estabelecer-se-iam muito bem em qualquer lugar. Cada um seguiria seu rumo levando a sua parte do restante do tesouro. Orelhinha, proprietário de uma das pedras, iria com Juventino, seu dono, ganharia bons pastos, boas jumentas e nunca mais trabalharia nessa vida. Quando possível, dariam notícias. Tudo combinado.
Ao cair da noite (hora de calmaria nos garimpos e nas emboscadas do caminho), Valadão, Juventino e Orelhinha saíram da caverna, levando as tralhas nas bruacas e as pedras devidamente divididas e guardadas em dois picuás, cada um com o seu, tomando todas as precauções para não chamarem atenção por onde passavam, e caminhando sem para e sem olhar para trás, por volta da meia noite, os três pisaram, sãos e salvos, a rua principal de Mucugê. Estavam imundos e vestiam trapos. Aproximaram-se da Praça dos Garimpeiros – centro da cidade – e cumprimentaram com boa noite três garimpeiros e três prostitutas que varavam a noite farreando. Ao verem aqueles rabos-de-saia, Juventino e Valadão, cinco anos sem mulher, manifestaram-se perguntando onde poderiam encontrar outras mulheres para passarem a noite, e foram informados de que, naquela hora, só havia uma velha prostituta cega num beco próximo, dentro de um quarto, deitada numa cama, que ainda estava recebendo freguês. Era só chegar, entrar, fazer o “serviço”, pagar 50 réis e sair sem conversar muito para não atrasar o atendimento.
Quando se afastavam, uma prostituta conhecida por Chica Caga na Telha, que ostentava na mão uma garrafa de Genebra, ainda zombou deles:
─ Vão, cambada de imundo! De garimpeiros lascados, já basta estes aqui!
Juventino e Valadão, escondendo seus sorrisos marotos, seguiram na direção do beco escuro. No trajeto, Juventino lamentou por Orelhinha que estava no sufoco igual a eles e teria que esperar o dia amanhecer para desfrutar uma jumenta. Valadão logo amenizou:
─ É questão de poucas horas. Logo, logo o dia amanhece e Orelhinha estará dando-se bem no curral! O que não falta lá é jumenta no cio!
─ É! ... E não tem outro jeito mesmo! – Conformou-se Juventino.
O beco era muito escuro. O interior do ambiente, mais ainda. As paredes, pintadas de preto. Juventino, já dentro do quarto, limitou-se a obedecer à voz rouquenha da mulher, da qual ele só via o branco do tracoma e dos dentes.
─ Venha! – A mulher chamou.
─ Já estou aqui! – Acrescentou o garimpeiro, chegando junto.
Passados uns dez minutos, Juventino, já de pé, sussurro:
─ Agora é a vez do outro!
A mulher prontificou-se:
─ Manda entrar!
Valadão entrou no quarto e, transcorrido o mesmo tempo de Juventino, deu-se por satisfeito e saiu. A mulher, deitada, quis saber:
− Tem mais?
Juventino mostrou a Valadão a ereção e a agitação do jumento Orelhinha sentindo o “cio” da mulher. De súbito, ponderaram e decidiram: se Orelhinha passou as mesmas penúrias que eles naquela caverna, era justo que ele também desfrutasse o mesmo prazer que eles! – a mulher não iria enxergar mesmo! E, se ela “chiasse”, eles entrariam no quarto e tirariam o jumento.
Juventino bradou para dentro do quarto:
─ Tem mais um!
─ Entra! – Ordenou a mulher.
Tiraram as bruacas do dorso de Orelhinha deixando-o só com a manta da sela, entraram cuidadosamente com o jumento no quarto e subiram as patas dianteiras do bicho na cama sobre a mulher deitada. No breu do ambiente, colocaram as mãos da mulher segurando na manta. Orelhinha logo passou a fazer a parte dele. Depois de quase uma hora, Orelhinha reapareceu na porta do quarto, visivelmente aliviado. Estranhamente a mulher não perguntou pelo próximo, como era de praxe. Valadão e Juventino preocuparam-se. Valadão da porta do quarto, perguntou, prevendo o pior:
─ Tudo bem? ... A senhora tá precisando de ajuda? .... Por favor, fale alguma coisa! .... Diga, pelo menos, quanto estamos lhe devendo! .... Pode cobrar a mais! ...
− Será que ela morreu? – Preocupou-se Juventino.
─ Vamos dar no pé! – Decretou Valadão.
Para surpresa daqueles atônitos garimpeiros, a mulher finalmente falou de dentro do quarto com uma voz de quem se apaixonara pela primeira vez:
─ Os dois primeiros pagam! O de jaleco não precisa pagar!







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