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Oxóssi (oṣóòsi) e Corpus Christi_

jjuncal10

Atualizado: 14 de jun. de 2022


VERÔNICA MOURA DOS SANTOS

Veronica de Oxosse Íyálorixá no Ilê Igba Òmó Aro Omin

Professora e Ativista do Movimento Mulheres Negras e luta contra a Intolerância Religiosa! Componho o Coletivo de Mulheres “Curicas Empoderadas”, atuante na área de palestras sobre autoestima e Empoderamento feminino


Explicar a razão pela qual o dia de Corpus Christi é dedicado aos festejos de Oxóssi requer uma análise profunda e delicada.


O dia de Corpus Christi é dedicado à Oxóssi pois para proteger o Candomblé contra a repressão da época, os antigos africanos desenvolveram uma correlação dos Orixás com os santos católicos que foi denominada de sincretismo afro-católico. Durante muito tempo o sincretismo serviu como ligação entre as duas religiões.


É importante ressaltar que o povo de Ketu foi escravizado no Brasil, principalmente na Bahia por uma estratégia dos portugueses e dos Fon (Jejes), que travaram uma aliança para roubar as riquezas de Ketu e exterminar com seu domínio financeiro e cultural naquela região africana.

Ketu era uma nação costeira, rica, de pequeno território e imensa cultura. O Daomé, a terra dos Fon era uma área interiorizada, com pouco acesso ao mar, dividido em tribos independentes e consequentemente com baixa hegemonia cultural e baixa riqueza concentrada.


Sempre existiu uma certa rivalidade entre os Fon e os Ketu e a aliança com os portugueses foi uma maneira encontrada para alavancar o povo Fon à riqueza, exterminando o povo Ketu, exportando-o para o Brasil como escravos e eliminando o culto a sua divindade mais importante, Odé/Oxóssi, considerado rei e patrono daquela nação.

É sabido por todos, que a maneira mais fácil de varrer a identidade cultural de um povo do mapa é destruindo seus dogmas religiosos, vide o que acontece até hoje com os muçulmanos, que nas facções mais radicais imprimem sua cultura através da opressão religiosa.


Daí, no dia de Corpus Christi, os tambores ressoam o Aguerê, os Ogês são batidos freneticamente e o deus da caça é louvado com fortes gritos de Arole, Okê Arô Odé!!!


Nós Araketu (povo de Ketu) temos a obrigação de manter o culto a este Orixá fortalecido e cada vez mais atuante, pois é a garantia da manutenção da nossa identidade e o fortalecimento da nossa raiz e como já dizia o sábio "Quem fortalece sua raiz, garante uma árvore de tronco grosso, galhos fortes e frutos doces e abundanes."


Olówó gìrí-gìrí lóòde, ó

gìrí-gìrí lóòde

Ó wà nìgbó òrò ode Òkè ó dára sáà ló gbéeron.

Tradução: Abastado Senhor que faz barulho com os pés, como se fosse muitas pessoas ao redor (tática de caça africana), ele faz barulho com os pés como se fosse muitas pessoas ao redor,

Ele está na floresta, a voz do caçador é alta e ele é bom na rapidez (tempo) em ferir a caça.


Atualmente, muitos terreiros de Candomblé não usam mais o sincretismo como instrumento de identificação, porém muitas festas de Candomblé ainda são feitas em datas comemorativas aos santos católicos, como é o caso de Oxóssi e Corpus Christi.


Para outros estudiosos, a explicação para relacionar essas duas festas é porque neste dia o primeiro andor que vinha à frente da procissão de Corpus Christi era o de São Jorge, a quem Oxóssi foi associado na Bahia.


Para o Ogan e escritor José Beniste, o sincretismo teve sua importância em aproximar o Candomblé ao Catolicismo. “Aliás, acho que os antigos africanos foram sábios ao criarem o sincretismo afro-católico, que embora nós saibamos que São Jorge não é Ogum, São Sebastião não é Oxóssi, Santa Bárbara não é Yansã e o Senhor do Bonfim não é Oxalá, é inegável certas analogias. Nos festejos do Senhor do Bonfim e de Corpus Christi, por exemplo, é notório que os candomblecistas estão reverenciando o Orixá, mas em um dia dedicado a um santo católico”.


Oxóssi aclamado como rei de Ketu, senhor das matas e dono da arte da caça, por isso mesmo é o provedor da comunidade que protege - o que não deixa de ter relação com a festa católica, afinal Jesus, nas formas de pão e vinho, é também alimento. Essa festa celebra também a prosperidade.


Na próxima quinta-feira dia 16, tem festa para Oxóssi nos Terreiros: Casa Branca, Gantois e Opô Afonjá em Salvador/BA. Essas três Casas que foram fundadas por sacerdotisas e sacerdotes ligados à Casa Branca (considerado o mais antigo terreiro de nação Ketu do Brasil) iniciam seu calendário litúrgico anual com esta festa dedicada a Oxóssi.


A festa nestas Casas acontece entre 17 e 19 horas, mas é bom chegar um pouco mais cedo, pois são festas que costumam reunir muita gente. Esteja atento às regras do Terreiro. Cada Casa tem a sua própria tradição, mas algumas normas são comuns:


Use roupa em tom claro e evite o preto, pois não se usa essa cor em nenhuma cerimônia de Candomblé.


É uma festa religiosa, portanto não tente fazer registro de imagens do ritual, sem a permissão de algum componente da Casa. Desligue o celular ou deixe no modo silencioso ou vibratório. Se precisar realmente falar ao telefone, seja cauteloso e saia do barracão. Antes de entrar em qualquer lugar fora do local da festa, pergunte a alguém da Casa se é permitido.


Oxóssi é o Senhor da fartura, por isso um dos pontos altos da festa é a distribuição da comida, pois é a forma de partilha do Orixá com o Ẹgbẹ́ (comunidade). Caso não queira comer, recuse gentilmente, mas se estiver interessado, respeite as regras de distribuição que observa critérios como a hierarquia (autoridades religiosas da Casa e de outros Terreiros).








 
 
 

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