
RIBAMAR VIEGAS
ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO,
TÉCNICO EM PONTES E ESTRADAS,
INSTRUTOR DE DIREÇÃO DEFENSIVA E CONDUÇÃO,
ESCRITOR
SE TIVER GATO É “VIADO”
Vestiu-se a rigor. Tratava-se de um rapaz bem afeiçoado, de fino trato, culto ─ chegava a ser abusado com suas locuções adjetivas ─, entrou no automóvel e saiu para uma auspiciosa festa de 15 anos de uma ninfeta da sociedade local, a qual ele almejava muito.
No trajeto, parou o veículo e entrou num bar de ponta de rua para tomar uma bebida quente com intuito de quebrar a timidez e chegar com mais espontaneidade à casa da aniversariante.
Sentou-se à mesa do bar, gentilmente solicitou um conhaque e bebeu. Quando se levantou para pagar e sair, o copo caiu sobre a mesa, a sobra da bebida escorreu do fundo do copo e, ao afastar-se repentinamente para não sujar o paletó, ele percebeu um rato de botica sugando do chão as gotas da bebida que caíram. Aquela atitude inusitada do ratinho deixou-o curioso, e ele pediu outro conhaque. Bebeu e derramou a sobra para o camundongo que também bebeu a sua parte da dose (ele adorava bichos, dizia conversar com eles).
Motivado pela pitoresca parceria de copo, outras doses foram bebidas pelos dois. E assim chegaram à décima segunda dose de conhaque, com o ratinho já bem mais à vontade, bebendo sobre a mesa e curtindo o vocabulário meticuloso do amigo que o adjetivava de singelo, impoluto, dileto...
A noite passou, a festa de aniversário e a debutante já haviam ido para o brejo, quando o dono do bar falou para os recém-amigos de mesa que chegara a hora de fechar o estabelecimento. O rapaz pediu mais um conhaque. Bebeu, e o ratinho idem. Ele pegou o ratinho que já estava caído bêbado sobre a mesa e colocou-o no bolso do paletó, no lugar do lenço que virara toalha para enxugar mesa. Conseguiu levantar-se e, com voz bastante pastosa, gravata já sem o nó, acrescentou:
─ Nós queremos beber mais!...
─ Aqui não é mais possível! − Levantou a voz o dono do bar! − E trate de pagar a conta! − Adiantou a mulher do homem. − E muito cuidado com o que fala porque sou uma donzela e exijo respeito! – Preveniu-o a filha do casal, que a tudo observava por entre a cortina da cozinha e chegara à mesa junto com a mãe.
Incomodado com as advertências e impulsionado pela embriaguez, ele despejou com o seu clássico linguajar:
─ Pois saiba que o senhor não passa de um rebento de um amor impuro, a senhora de uma impudica e a senhorita de uma promíscua!...
Enquanto a família se entreolhava interrogativa, sem saber se eram insultos ou elogios, o ratinho levantou a cabeça caída fora do bolso do paletó e chiou no popular: chi!... chi!... chi!... logo traduzido pelo seu zoolátrico parceiro de gole:
─ Ele disse que se tiver gato nesta casa, é “viado”!... Hic!... Hic!... Hic!...
Uma nota de cem reais foi jogada sobre a mesa, nem esperam o troco. Os dois entraram no carro, e o ratinho pulou para o volante.
Para: Stela Maris.







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