
RIBAMAR VIEGAS
ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO, TÉCNICO EM PONTES E ESTRADAS,
INSTRUTOR DE DIREÇÃO DEFENSIVA E CONDUÇÃO, ESCRITOR
Sentado no banco dos réus, o roceiro Deocleciano Doca, 66 anos, acusado de estuprar a menor Mariinha, de 17 anos de idade − com quatro anos de agitada promiscuidade – que, orientada pela mãe, seduziu Seu Doca a um instante de prazer com o propósito de fazê-lo apodrecer na cadeia e lhe tomar os bens e a aposentadoria. Consumado o fato, o roceiro foi denunciado pela mãe de Mariinha, processado e levado a júri popular.
Na acusação, estava o austero promotor Dr. Pontes Pedrosa − até então invicto nas suas contendas nos Tribunais −; na defesa, o Dr. João, conhecido pelas suas articulações diabólicas.
O júri seguiu madrugada adentro e, após uma longa e devastadora acusação, o Dr. Pontes Pedrosa pediu ao juiz − como reparo aos danos causados à honra da menor Mariinha − os confiscos da aposentadoria e dos bens do acusado em favor da vítima −; e ao corpo de jurados, a condenação de pena máxima para o réu Deocleciano Doca, por tratar-se, segundo ele, de um tarado incompossível.
O Dr. João iniciou a defesa do roceiro Deocleciano Doca perguntado ao rigoroso promotor:
─ Senhor promotor, seria pecaminoso V. Exa. nos dizer qual a sua idade?...
─ Setenta anos! − Respondeu Pontes Pedrosa, após umedecer a garganta bebendo água de um copo à sua frente.
─ V. Exa. é casado?
─ Sim!... Sou muito bem casado!
─ V. Exa. poderia nos dizer quantos anos tem a sua condigna esposa?....
─ A minha esposa é da minha idade!!
─ Então ela tem setenta anos!... Portanto, uma anciã!...
─ Sim! Mas o que tem a ver a minha idade e da minha esposa com o caso? − Impacientou-se o promotor, batendo com a palma da mão na tribuna.
─ Se V. Exa. me permitir mais uma perguntinha, logo todos ficarão sabendo!...
A curiosidade tomou conta de todos, principalmente do irrequieto promotor Pontes Pedrosa, que esbravejou:
─ Faça a sua pergunta!... Contudo, só a responderei se me for conveniente!
O Dr. João − sabedor da ilimitada impetuosidade do promotor, perguntou de súbito:
─ V. Exa., com setenta anos, ainda consegue manter relações sexuais com sua esposa?...
O brio de macho de Pontes Pedrosa falou mais alto, e ele respondeu de imediato:
─ Todos os dias, por quê?...
O Dr. João, prontamente, agradeceu ao promotor a resposta e concluiu a sua tese de defesa, proclamando a todos:
─ Meritíssimo Senhor juiz, Senhores jurados, Senhoras e Senhores presentes neste Tribunal, diante do exposto, digam-me... Quem é o tarado incompossível aqui?... O rude roceiro Deocleciano Doca, de 66 anos, que foi induzido a manifestar-se sexualmente, uma vez, por uma ninfeta de 17 anos, ou o Exmo. Sr. Promotor Pontes Pedrosa, com setenta anos, que manifesta-se sexualmente todos os dias por uma anciã da sua idade?...
O Corpo de Jurados reuniu-se, e o veredito inocentou o roceiro Deocleciano Doca por unanimidade, enquanto o promotor Pontes Pedrosa amargou a sua primeira derrota em júri popular, traído pela sua aguçada veemência, excitada por mais uma articulação diabólica do Dr. João.
(O que fica deste texto é −, controle-se, pense antes de falar)









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