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TRÊS SHOPS


RIBAMAR VIEGAS

ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO, TÉCNICO EM PONTES

E ESTRADAS, INSTRUTOR DE DIREÇÃO DEFENSIVA

E CONDUÇÃO, ESCRITOR.


Eram 21h de um sábado de verão. A praça em frente ao Bar Rica formigava de gente quando o forasteiro entrou, ocupou uma mesa e foi prontamente atendido pelo proprietário do estabelecimento:

− Boa noite! ... O senhor deseja beber alguma coisa? ...

− Boa noite! ... tem shop?

− Tem!

− Quero três!

− Um de cada vez, naturalmente, né? ...

− Não! ... Por favor, sirva os três de uma vez!

− Será que ele entrou com mais duas pessoas e eu não vi?

Pensou alto o dono do bar.

Servidos os três shops, o forasteiro foi bebendo um gole em cada copo, até secar os três copos. Pagou, agradeceu e foi embora, deixando o proprietário do bar encucado com aquela maneira de beber shop:

− Vai gostar de shop assim nos quintos dos infernos! – Sussurrou o comerciante.

Passada uma semana, o dono do Bar Rica ainda se lembrava do homem dos três shops, quando o dito cujo adentrou o ambiente, ocupou a mesma mesa, cumprimentou o proprietário da casa e perguntou:

− Tem shop? ...

− Tem! ...

− Por favor! ... traga três! ─

− Os três de uma vez?!...

− Sim, sim! ... Tem que ser de uma vez!

− Tem doido pra tudo! – Resmungou o barmen servindo os três shops e, cheio de curiosidade, sugeriu:

− Desculpa, mas por que o senhor não bebe um shop de cada vez? ... assim o senhor vai beber sempre bem gelado.

− Não posso! ...

− Não pode por quê? – A curiosidade do dono do Bar Rica foi pra lua.

− Porque tenho dois irmãos, um em São Paulo, o outro no Rio de Janeiro e, como estou aqui na Bahia, essa é a maneira de bebermos juntos. Tanto o meu irmão de São Paulo quanto o do Rio de Janeiro, neste momento, estão fazendo o mesmo que eu. Tomando três shops, um copo por cada um de nós... assim bebemos juntos e até conversamos, tudo na base da telepatia.

─ Só pode ser uma crise de loucura! – Presumiu o comerciante – e, falando para o homem: − se os senhores quiserem mais shop, é só pedir! ...

No sábado seguinte, no mesmo horário, a figura dos três shops entrou no Bar Rica, sentou-se e foi atendido pelo proprietário, que só quis confirmar:

− Três shops, né? ...

− Não! ... Só dois! – Respondeu o desconhecido um tanto cabisbaixo.

− Lascou-se! – Presumiu o proprietário do bar − alguma coisa de muito grave deve ter acontecido.

Enquanto o “botequeiro” transbordava de curiosidade, o homem não parava de pedir:

− Dois shops! ... Mais dois! ... Mais dois! ... Mais dois! ... Mais dois! ...

O dono do Bar Rica aproximou-se da mesa e, buscando entender melhor a situação, expressou o seu pesar:

− Amigo, meus sentimentos pelo acontecido com um dos seus irmãos! ...

− Ué! ... não aconteceu nada com meus irmãos... tanto que eles estão bebendo! ...

─ E por que o senhor está pedindo shop só para dois? ...

− Ah! ... é porque hoje eu não estou bebendo... só eles! ... E como o senhor pode ver, eles gostam mais de shop do que eu!

─ Tudo bem, tudo bem! ─ concordou o dono do bar e, colocando sobre a mesa do forasteiro um prato com três bolinhos de bacalhau, acrescentou:

─ Esse tira-gosto é cortesia da casa!

Bebendo shop, o sujeito saboreou dois bolinhos e devolveu um, agradecendo:

─ Obrigado! Meus irmãos adoraram seu bolinho de bacalhau, sobrou um porque eu sou alérgico a marisco.

Partindo do princípio de que todo doido só é doido até encontrar um doido e meio, o dono do Bar Rica aproximou-se da mesa do sujeito comendo bolinho de bacalhau, bebendo um copo de shop e acrescentou:

─ Coincidência, eu também sou alérgico a marisco e não estou bebendo hoje! ...

O homem cochichou:

− Vamos! ... Pra mim já deu! ... tenho pavor a doido! ... E só agora percebi que o dono do bar é pirado! Dizendo isso para os “irmãos”, homem levantou-se, pagou a conta e nunca mais apareceu no Bar Rica.










 
 
 

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