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A FUGA DE CARLA ZAMBELLI: UM ESCÁRNIO À DEMOCRACIA BRASILEIRA


POR: BIA MONTES, JORNALISTA, ATUANTE NAS ÁREAS DE ASSESSORIA POLÍTICA E GESTÃO DE CRISE. ATUOU POR 20 ANOS EM ASSESSORIA POLÍTICA E COORDENAÇÃO ESTRATÉGICA DE CAMPANHAS POLÍTICAS. HOJE, PRODUTORA DE REPORTAGEM NA TV BAND, ESCRITORA DE CONTOS E ARTIGOS DE OPINIÃO


  

No Brasil de 2025, a democracia é um valor fundamental, mas que tem sido constantemente posto à prova por figuras públicas cujas ações parecem desafiar os pilares da justiça e da ética. A recente fuga da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), é um exemplo flagrante desse desafio, representando um escárnio à própria noção de democracia e impunidade. 


A condenação de Zambelli por unanimidade pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e falsidade ideológica já era, por si só, um marco grave. A acusação de que a deputada orientou o hacker Walter Delgatti Neto a inserir documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, revela uma tentativa de subverter a ordem jurídica e atacar a Suprema Corte. Somado a isso, as denúncias de porte ilegal de armas e constrangimento ilegal, evidenciadas pelo episódio em que sacou uma arma e apontou para um homem em São Paulo na véspera das eleições de 2022, pintam um quadro de desrespeito às leis e uso abusivo da sua posição. 


No entanto, a cereja do bolo neste festival de desfaçatez foi a fuga da deputada para o exterior. Zambelli, que já se encontrava na mira da justiça, optou por deixar o país alegando a necessidade de tratamento médico e a suposta inacessibilidade de cuidados nos Estados Unidos — uma justificativa que soa oca e conveniente, especialmente considerando as acusações que pesam contra ela. A afirmação de que, por ser deputada, só poderia ser presa em flagrante delito, feita em um vídeo que ela mesma publicou, beira o delírio e demonstra um completo desconhecimento ou desrespeito às normas processuais. 


O desfecho, no entanto, foi ainda mais constrangedor para as autoridades brasileiras. A localização da deputada não se deu por uma complexa operação de inteligência, mas pela sagacidade de um gamer, Geo Pasch, famoso na comunidade Geo Guessr. A análise de um vídeo publicado por Zambelli, onde ela reiterava sua interpretação equivocada da lei, foi suficiente para que Pasch, munido apenas de suas habilidades em identificar locais por pistas visuais, compartilhasse as coordenadas geográficas da deputada no então Twitter (hoje X). Esse episódio, quase cômico em sua simplicidade, escancara a ineficácia dos mecanismos de controle e a passividade na busca por foragidos da justiça no Brasil. A facilidade com que um cidadão comum localiza uma figura pública condenada pelo STF é um tapa na cara das instituições responsáveis pela segurança e pela aplicação da lei. 


A repercussão internacional não demorou a chegar. O deputado italiano Angelo Bonelli, do partido Europa Verde, prontamente apresentou um ofício formal solicitando "medidas urgentes" para impedir que a Itália conceda refúgio a Zambelli. O fato de um parlamentar estrangeiro se antecipar e tomar providências antes mesmo da chegada da deputada ao país europeu sublinha a percepção global da fragilidade do sistema judicial brasileiro e a impunidade que muitas vezes assola o cenário político nacional. A justificativa de Zambelli de buscar tratamento médico mais acessível na Itália, após alegar que nos Estados Unidos era "muito caro", soa como mais uma desculpa esfarrapada para evadir-se da justiça. 


Em suma, a fuga de Carla Zambelli, sua localização por um gamer e a subsequente manifestação de um deputado italiano são um escárnio à democracia brasileira. Revelam não apenas a falha das instituições em garantir a aplicação da lei, mas também a audácia de figuras públicas que, em vez de honrar seus mandatos, parecem dispostas a desafiar o próprio sistema que as elegeu. Essa série de eventos, permeada por um senso de impunidade e desrespeito, mina a confiança dos cidadãos nas instituições e exige uma reflexão profunda sobre os rumos da justiça e da governança no Brasil. A democracia só se fortalece quando a lei é aplicada a todos, sem exceções, e quando a fuga da justiça não é uma opção viável para ninguém. 









 
 
 

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