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BACANAL

jjuncal10

RIBAMAR VIEGAS

ESCRITOR LUDOVICENSE


Definitivamente bacanal não é coisa de pobre. Imaginem: carrões, lanchas, mulheres bonitas, bebidas finas, comidas caras e muita discrição. Essas “coisinhas” essenciais a um bacanal não estão ao alcance de qualquer um. O bacana, pode ser branco, preto, velho, novo, feio, bonito, não importa. O que importa é ter grana, afinidade com mulheres e ser um ator por excelência. Saber armar, representar, fingir, chorar, sorrir... jamais demostrar-se ansioso junto à “rádio patroa” ao receber o convite de amigos para uma “pescaria”. Até fingir dúvida em aceitar o convite, mas sempre resmungando a sua  necessidade de descansar um pouco a mente. Nunca cogitar à mulher se deve ir ou não! Isso pode ser fatal para a pretensão de participar do bacanal.  Comunique-lhe que vai, se possível, depois de um chamego... fale que não pode recusar o convite do seu maior fornecedor. Bota interesse profissional na jogada. Pois é! Quem não for desse staff nem tente participar de um bacanal de ricos porque termina botando tudo a perder. Bacanal de pobre só dá certo no Baixo Meretrício, onde a baixaria é confundida com glamour. 

  Mas o caboclo Juvenal, o grande Juca, que era pobre, há muito vinha participando dos bacanais que seus patrões realizavam na mansão do sítio onde ele era o caseiro. 

       A coisa acontecia nos finais de semana. Os patrões de Juvenal − quatro empresários mineiros de grande notoriedade − saíam de suas casas para uma “pescaria” e chegavam ao sítio com quatro belíssimas mulheres de programa − normalmente modelos ou atrizes que não deram certo −, todas naturalmente fisgadas pelo luxo do programa e pela bela grana que receberiam. A comitiva era recebida pelo festivo caseiro Juvenal e, como de praxe, sempre um dos bacanas pedia a opinião do caboclo sobre a qualidade do mulheril: 

   ─ Que tal o cardume de hoje, Juca, beleza? 

     ─ Joia! – respondia o inquieto caseiro, mostrando o dedo polegar em riste. 

     ─ E por aqui, Juca, tudo nos conformes? – perguntava o que era dono do sítio. 

     ─ Do jeitinho que o patrão gosta. Tudo dentro dos conformes – garantia Juvenal, sem tirar os olhos das garotas. E não faltava, entre elas, uma para tecer elogio ao caseiro, do tipo: 

     ─ Gente!... Como ele é um amor de pessoa!?... 

Isso só servia para deixar o caseiro ainda mais excitado. 

    Era só o bacanal começar no interior da mansão, para Juca subir numa jaqueira frontal à sala de amor e ficar espiando os figurões comendo, bebendo e mandado ver. Enquanto ele, fazia “fazendo justiça com as próprias mãos”, ou seja, participando dos bacanais dos patrões.

Indiretamente. 

      Até que, num final de semana, os patrões de Juvenal chegaram ao sítio com quatro belíssimas paulistanas. Para a glória do caseiro, um dos seus patrões − por motivo de viagem ao exterior − não pôde comparecer à orgia. E, como a falta de um não alterava o cachê das gatas, convocaram Juvenal a participar diretamente do bacanal. No interior da mansão, a gata escolhida para os anseios de Juvenal serviu-lhe Whisky e intimou o caseiro a depilar-se e tomar um banho. Ela até se ofereceu para ajudá-lo na solicitada higiene corporal, mas o excitadíssimo Juca preferiu deixá-la fora do banheiro, até para não chegar às vias de fato só em olhar aquela mulher sem roupa à sua frente. Ele pensava em fazer bonito para agradar a todos e, quem sabe, continuar participando da surubada diretamente.  

        O caseiro Juvenal, porém, na sua afobação, confundiu um secador de cabelo automático, a jato, desses que aquecem instantaneamente durante a chapinha, com um barbeador elétrico. 

      Juvenal − que estava a mil – ligou o secador de cabelos no máximo, deu um tempo e usou-o... A coisa não só provocou uma queimadura de segundo grau, como sugou e arrancou pelos e pele do íntimo do caboclo.   O berro do caseiro, além de despertar toda a vizinhaça, causou perdas e danos a dois ribeirinhos que pescavam tranquilamente na barragem Três Marias, a 3km da mansão. Apavorados com o berro horroroso de Juvenal, na calada da noite, os dois pescadores esqueceram que estavam em águas e tentaram fugir correndo, fazendo a canoa ir a pique. De imediato, formou-se um grupo de pessoas curiosas em frente à mansão, destacando-se um vizinho jornalista − que tudo fotografava − e a aflita esposa do caseiro, que morava na área do sítio, e reconheceu o berro do seu amado Juquinha. De súbito, a porta da mansão foi aberta e surgiram as figuras do caseiro Juca – nu, aos berros, segurando o seu infortúnio, clamando por socorro – e de uma bela mulher – também nua, com uma mão cobrindo o principal e a outra na boca, tapando o seu misto de aflição e de sorriso diante da situação do caboclo.    

    No jornal do dia seguinte: na coluna social, a notícia de três divórcios na tradicional família mineira e o anúncio da venda de um belo sítio à margem  do Rio São Francisco; na coluna policial, a surra que levou da mulher o Sr. Juvenal Magela (vulgo Juca) que quase o deixou castrado. 










 
 
 

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