ESQUECEU
- jjuncal10
- 30 de jul. de 2022
- 2 min de leitura

RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Conheci Seu Germa (Germano Soares) no povoado do Rio Gavião, município de Anagé-Bahia, durante o projeto da estrada BR-030, trecho Brumado – Entroncamento BR-116, nos idos de 1974.
Naquela oportunidade, seu Germa, apesar da sua exuberante vitalidade, comprovada na sua labuta diária na roça, já passava dos oitenta anos de idade. − Lembro-me que foi na casa do Seu Germa que saboreei uma das mais suculentas galinhas caipiras ao molho pardo, preparada por Dona Ambilina, a prendada esposa daquele próspero pecuaristas de caprino.
Passado uns dez anos, encontro em Anagé (BA), Julião Alma-De-Gato, ilustre morador do povoado do Rio Gavião e, no nosso bate-papo, Julião comentou que Seu Germa havia ficado viúvo e se casado recentemente com uma moça de 18 anos de idade. Segundo Julião, uma viúva de nome Mundica, fora se oferecer como esposa para o seu Germa, no dia em que completara cinco anos que Dona Ambilina se fez defunta, e o velho Germa, − bom negociante que era −, armou-se do seguinte argumento para conseguir da viúva Mundica, coisa muito melhor:
─ Dona Mundica, a senhora já teve a sua oportunidade de casar e ninguém tem culpa do seu marido ter morrido, por que a senhora não dar essa oportunidade para sua filha Ritinha, que já completou dezoito anos, coitadinha, e ainda não casou? ...
A viúva Mundica, pela felicidade da filha, não pensou duas vezes para concordar plenamente com aquele argumento e o casamento de seu Germa com Ritinha aconteceu, conforme exaltou Julião Alma-De-Gato, no padre e no civil.
Perplexo, por me lembrar da idade que teria Seu Germa naquela ocasião, mais de noventa anos, e ter se casado com uma moça de apenas 18 anos, não me contive e quis saber detalhes: se houve festa? Lua-de-mel? Gravidez? ... E Julião foi falando:
─ Festa, teve! ... E foi muito boa! .... Agora, lua-de-me, gravidez... Julião fechou a mão balançou o dedo polegar para baixo, e confidenciou:
─ Olha, seu “Zigomá” (é assim que Julião Alma-De-Gato me chama), depois da festa do casório, o velho Germa e Ritinha se trancaram na casa. Nós, da redondeza, com o coração pipocando de curiosidade, ficamos do lado de fora com os ouvidos grudados na porta e na janela do quarto do casal só prá ouvir o couro “cumer”. Juvenal Boca-De-Sapo chegou a apostar com a quenga Lalá Pinico, um chamego de graça como o velho Germa, naquela noite, não ia ficar só no até amanhã.
Pois, bem, seu “Zigomá”, primeiro foi ouvido de dentro do quarto a voz cavernosa do velho Germa:
─ Ô, Ritinha, a tua mãe ti ensinou direitinho o que tu tens de fazer in riba da cama depois que tirar a roupa? ...
Em seguida, ouviu-se a vozinha churumingosa de Ritinha:
─ Ensinou não sinhor! ...
Aí ecoou dentro do quarto a voz de desapontamento do velho Germa:
─ Agora, lascou-se! .... Porque a menina não sabe e eu já esqueci! ...
Daí prá frente, seu “Zigomá”, só se ouviu ronco e bufa, − mania que o velho Germa nunca esqueceu quando dorme.







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