
RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Era pertinente a denominação Maria Preá a uma mulher de baixa reputação nos submundos do Norte e Nordeste brasileiros. Preá é um tipo de roedor existente nos capinzais, que, apesar de muito arisco, é presa fácil para as cobras. Daí a analogia Maria Preá. Mulher arisca, mas presa fácil para os homens. Havia até bordões expressivos sobre a figura Maria Preá. Lembro-me de um:
— Morreu Maria Preá! Ou seja, fato consumado. Algo que não tinha mais jeito. Já era!
Zé Pezão, figura marcante nos confins do Maranhão, Piauí e Pará. Vivia de fazer “rolo”. Amanhecia com um barco e anoitecia com um caminhão... toras de madeira... prédios e sempre com os bolsos cheios de dinheiro. Seu lema era: “eu compro de quem quer vender, vendo a quem quer comprar e troco com quem necessita da troca”. Espertíssimo! Tanto que era abastado. Fora dos negócios, a zona do baixo meretrício era o seu habitat preferido. Conhecia todos os puteiros daquelas bandas.
Fazia uma manhã de muita chuva em São Luís, mesmo assim, Zé Pezão fechava negócios na sua mesa cativa no salão do São Luís Palace Hotel. Saldanha, caixa de um banco, acostumado a pagar pré-datados para Zé Pezão, chegou todo molhado e anunciou a boa nova:
— Zé, fiquei sabendo que inauguraram em Belém uma filial do cabaré internacional Acapulco. Mulher, comida, bebida e música, tudo do México. Coisas de luxo! Principalmente as mulheres.
Zé Pezão, como era do seu feitio, não demostrou interesse pela auspiciosa notícia, até comentou:
— Pra mim cabaré não passa de um puteiro metido a merda. Fui a um em Parnaíba, além de perder dinheiro no carteado, ainda tive que escorraçar da minha mesa Maria Preá, que apareceu por lá dando uma de boliviana.
Zé Pezão chegou a Belém no começo da noite e foi direto para o tal cabaré Acapulco. Na entrada, foi recebido por um tipo mexicano, delicado, ostentando um lenço vermelho em forma de gravata, que o saudou em portunhol:
— Buenos noite! Soi Juanito, seu criado. El cavaleiro deseja una mesa?
Zé Pezão mirou-o de cima a baixo e respondeu em voz baixa:
— Sim!
Juanito, cheio de trejeito, indagava e Zé Pezão limitava-se a rosnar, contemplando a originalidade da decoração e das mexicanas que faziam companhia aos fregueses no salão:
— El cavaleiro gostaria de provar nostra tequila?
— Sim!
— E qui tal conhecer Conchita, nostra majestosa ninfeta mexicana que chegou hoje de Acapulco? (Com a mão em concha no ouvido de Zé Pezão). Novita, novita. Sui primeira noite de amore!
— Traz!
A majestosa Conchita, vestida a rigor de bailarina mexicana, chegou por trás e, com as unhas compridas, futicou a cabeça de Zé Pezão, perguntando em portunhol:
— El muchacho que está interessado numa noite de amore?
Zé Pezão, experto em puteiro, sem olhar para trás, esbravejou fulo da vida, alto e em bom tom, diante dos olhares atônitos dos presentes:
— Vai tomar no c..., Maria Preá!! E avisa a Leleco Chupeta que de Juanito ele não tem nem o sombreiro!
Maria Preá e o pederasta Leleco Chupeta eram figuras manjadas do prostíbulo Buraco do Tatu, em São Luís. Faziam a vida falando em portunhol para cobrar mais caro dos fregueses desavisados, passando-se por estrangeiros. Vale dizer que os dois estavam em Belém, empresados pelo bancário Saldanha que, nas horas incertas, fazia bico como cafetão.
Saldanha, mui amigo!...








Comments