
RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
O simpático casal naturista francês, Perry e Margot, recebeu na Vila do Atlântico, em Salvador, o roceiro João Penca, contratado para ser o novo caseiro da chácara onde moravam. Como estava de saída para uma praia de nudismo existente na Costa do Sauipe, o casal resolveu levar João Penca para a tal praia, até porque ainda não o conhecia o suficiente para confiar-lhe a chave da chácara.
Ao chegarem à praia de nudismo – o primeiro mar na vida de João Penca – qual não foi a surpresa do caboclo quando um homem totalmente pelado “respeitosamente” os recebeu indicando o local de estacionar o carro. Surpresa maior João Penca teve no momento em que Perry e Margot também tiraram a roupa e pediram a ele que fizesse o mesmo. Com os olhos semicerrados, evitava olhar sua maravilhosa patroa despida. João Penca também ficou nu, ostentando o grande motivo do seu cognome de Penca. E nus eles caminharam pela praia deserta até se juntarem a um festivo grupo de pessoas, cerca de doze casais, todos naturalmente pelados. João Penca tentava, de todas as maneiras, desviar o seu olhar para não enxergar aquelas mulheres nuas à sua frente – logo ele que, de fêmea nua, só tinha intimidade com cabrita, jumenta, égua −, não convinha arriscar.
Após as saudações e apresentações de praxe, o incidente. Uma sararazinha superanimada achou de saudar João Penca com um “Seja bem-vindo! ” Seguido de um beijo no rosto do caboclo. João Penca arriscou espiar o corpo nu e quente daquela mulher e aconteceu o que ele mais temia naquele momento, uma ereção. E bota ereção nisso! O que se ouviu foi aquele ó!, ó!, ó!... Não se sabe se de decepção ou de admiração das pessoas em volta do matuto. Sem alternativa, João Penca correu em direção ao mar e ficou nadando paralelo à praia. Ia de peito e voltava de costas, parecendo um veleiro com a vela fora do pano. Na areia, o grupo de naturistas nus buscava uma solução pacífica para trazer João Penca de volta, mas sem aquela de horror. Enquanto isso, João Penca continuava no mar, nadando e olhando para o céu, tentando encontrar nas nuvens uma distração para enganar a sua excitação.
Pois não é que a sararazinha do beijo largou a mão do marido, pegou uma boia (uma câmara de ar) e correu em direção ao mar, dizendo:
− Se fui a causadora, é minha também a obrigação de dar um jeito nisso.
Depois de quase uma hora no balanço das ondas, João penca e a sararazinha, ainda envolvidos pela boia, pisaram em terra firme. O caboclo visivelmente mais aliviado e a mulher, num misto de bagaço e de satisfação. – Lógico que ela foi recebida, principalmente pelo marido, como uma verdadeira heroína.
Temendo um novo vexame, João Penca cerrou os olhos e aproximou-se lentamente do grupo. Margot, só querendo registrar para posteridade aquele que seria o momento do batizado do roceiro João Penca no naturismo, juntou o grupo de pelados em volta do caboclo, apontou uma máquina fotográfica e, buscando a atenção de todos, gritou:
- Olha o beija-flor!!!
João Penca caiu na besteira de abrir os olhos e o único “beija-flor” que ele visualizou foi o da sua bela patroa. O caboclo se beliscou, mordeu os beiços, mas não houve jeito. A coisa reacendeu, tiniu de novo. Desta feita, João Penca saiu correndo pela areia até sumir no infinito da praia. A sararazinha até que tentou alcançá-lo, mas não conseguiu.
Dias após – nu e ainda ereto –, João Penca foi parar numa colônia de hippies, na distante praia de Arembepe, no litoral norte baiano. Por lá, a mulherada de cabeça feita, que não parava de admirar a supremacia daquela divindade que surgira do mar, acolheu-o carinhosamente, com paz e, principalmente, muito amor!
João Penca logo foi convidado a experimentar o “cachimbo da paz”, gostou da fumaça e virou o hippie Apolo (O deus do Sol e de muito amor).






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