
RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Lenda:
─ Para que a Terra tivesse vida, Deus criou os vegetais. Contam que cada um deles pediu uma graça. Uns queria ser forte, outro queria dar flores perfumadas e frutos saborosos, outro queria ter vida longa, e todos os pedidos foram atendidos. O último foi o umbuzeiro, que suplicou:
─ Senhor, dada a minha localização (na caatinga), desejo do senhor a mais aprazível sombra para oferecer aos os sertanejos acalorados da labuta Severina. E foi concebido. Não existe sobra mais fresca do que a de umbuzeiro.
Verdade:
“ O prefeito de um mísero município do sertão baiano - desses que não fazem absolutamente nada pelo povo - extrapolou os costumes locais casando-se com uma “socialite” paulistana. Eis que a mulher, na condição de primeiríssima-dama, foi em comitiva conhecer de perto a caatinga. Ao descer do carro oficial, em pleno sertão, a mulher avistou ao longe uma árvore frondosa, demasiadamente verde, contrastando com a castigada paisagem do lugar.
Um xexelento da comitiva ao perceber a admiração da paulistana pela árvore, gritou:
- É um umbuzeiro!
O Rui Barbosa local, também bajulador do prefeito, emendou:
- Árvore impar da família das Anacardiáceas, também conhecida, por estas plagas, como imbuzeiro.
Um terceiro abestalhado, disputando no coice a oportunidade de também servir a puritana senhora, completou o serviço:
- Pai e mãe do sertanejo. Do umbuzeiro se aproveita tudo: - a sombra para proteger do sol escaldante daqui, o fruto para matar a fome e da raiz pode-se tirar água para saciar a sede.
Mais abismada ainda com tantas qualidades, a distinta ergueu a voz e disse que queria conhecer de perto, abraçar aquela maravilha sertaneja, tocar naquela preciosidade da família das Anacardiáceas. Os curiosos presentes abriram caminho e a comitiva seguiu em passos largos na direção do umbuzeiro. Quando se aproximavam da árvore, eis que um segurança avistara um pacato sertanejo agachado ao lado do tronco, num sublinhe momento da sua merecida pausa da labuta severina.
O segurança logo mostrou serviço:
- Peraí?!
E correu apressado para retirar a pobre criatura que usava a frondosa sombra do como sanitário. Ríspido, grosso que só papel de embrulhar prego, o segurança parte para tirar na marra o tranqüilo sertanejo da paz do umbuzeiro:
- Levanta daí condenado, não tá vendo que a mulher do prefeito vem chegando, miserável?!
Calça arriada, cigarrinho de palha num canto da boca quase banguela, o sertanejo soltou uma baforada e desabafou:
- Agora lascou-se!, o marido dela não deixa a gente comer e ela não quer deixar a gente cagar!...”







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