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PAPOCALADO

jjuncal10



TOM LIRA

PROFESSOR E ESCRITOR





Uma explosão de talento e musicalidade passou por aqui e deixou muita saudade. Uma saudade que só não é maior porque os protagonistas ainda estão entre nós e, vez por outra, temos o prazer de vê-los e de ouvi-los por aí. É claro que se estivessem todos juntos seria melhor, mas para nós, órfãos resignados, tê-los por aí, já é bastante. Estou falando da Banda Papocalado. Um elemento impar no cenário musical da região que surgiu e se desintegrou logo nos primeiros anos deste século. Tal e qual a um meteoro que cruza o manto negro da noite, o Papocalado (era assim que as pessoas se referiam à banda) riscou de luz e brilho a escuridão de um ambiente soturno, dominado por referências pobres e produções musicais mal elaboradas.

Efêmero? Sim. Porém, intenso. O brilho e a musicalidade peculiar do Papocalado estão imortalizados no álbum Caatinga Soul, que em 2018 completa onze anos, e guardados, com carinho, nas lembranças daqueles que suaram e bateram as cabeças nas inesquecíveis apresentações da banda que encantou e que, agora, passo a contar um pouco de sua história.

Tudo começa em 2004, quando o fundador da banda, o musicista Bruno Caires, depois de grande temporada pelo sul do país, retorna à Bahia e se depara com um cenário musical limitado aos hits veiculados pela grande mídia. O que se ouvia nas rádios e nas festas era, principalmente, o pagode baiano, propondo brincadeiras a partir de coreografias de exaltação à bunda e o inesgotável sofrimento romântico dos, ditos, Sertanejos. As construções poéticas eram invariavelmente pobres, os arranjos e linhas melódicas obedeciam a certa isomorfia. Ou seja, a forma que comercialmente estava dando certo naquele momento. Isso não era nenhuma novidade no cenário musical brasileiro. Essa prática se faz corriqueira ao longo da nossa história.

Porém, inquieto e nadando em sentido contrário, Bruno propõe a alguns jovens debutantes da vida e da música a formação de uma banda cuja essência musical se daria a partir de influências do Rock e de outros ritmos da Black Music. A intenção era de produzir um trabalho que combinasse canções autorais com sucessos consagrados e fazer apresentações regionais nas quais o público seria motivado a dançar pela vibração e a sonoridade que a banda se propunha a realizar.

Com todas as dificuldades que já eram previstas, tanto de aceitação no mercado quanto de formação do grupo, a banda deu o seu primeiro passo. Do jeito que tinha que ser. Pelas garagens da vida. Sob a liderança de Bruno Caires, com sonoridade e atitudes que, de cara, chamaram a atenção, entre idas e vindas de componentes, o Papocalado encontra sua formação definitiva num quarteto que junta à guitarra expressiva e a voz de Bruno Caires com o baixo quase jazzístico de Jota Santana, a bateria firme e não menos expressiva de Pablo Moraes, além do carisma e guitarra de Joab Paiva.

Há quem diga, e eu concordo, que a chegada de Pablo Moraes, último componente a se juntar ao grupo, teria sido definitiva para o encaixe das influências musicais que determinaram o conceito do som que a banda passou a produzir e entregar aos seus seguidores. Afora uma fotografia absolutamente carismática, as canções foram brotando a partir de misturas improváveis que encontraram desfechos harmônicos no talento dos rapazes.

No álbum Caatinga Soul está a maior prova da harmonia heterogênea a que esses caras conseguiram chegar. Nele, além dos cuidados com as construções poéticas, é possível ouvir canções nas quais a cuíca dialoga com a guitarra, o samba com o rap, a levada característica dos Novos Baianos de mãos dadas com o rock and roll. Tudo isso e muito mais, passando pela Soul music e pelo funk, sem abrir mão do balanço que provocava e invadia os corpos a ponto de arremessá-los naquela fantástica onda sonora.

Não sei... Só que eram assim as noites de apresentações do Papocalado.

Os shows começaram em pequenos espaços que, aos poucos, ficaram, ainda, menores, pois a cada apresentação a banda arrebanhava um número maior de adeptos. Se fosse definir com uma metáfora eu diria assim: Até quem não era de ir, foi, e até quem não era de dançar, dançou.

Com as casas lotadas e um público cada vez mais fiel a banda pediu passagem. Os palcos e os espaços cresceram, os shows passaram a contar com roteiros, produções mais elaboradas e o trabalho autoral ganhou força extraordinária. Em pouco tempo as fronteiras foram rompidas, o quarteto teve que pôr os pés nas estradas e, asseguro-lhes, sob o meu testemunho, angariaram um sem número de fãs e energizaram palcos em muitas outras paragens.

Mas esta outra parte da história eu prometo contar num próximo episódio.

A gente se vê na próxima edição com muito mais sobre a história dos quatro rapazes do Sertão.






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