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PROFESSOR OU SUPER-HEROI?

Por Nelson Neves - Pedagogo, Pós-graduado em Coordenação Pedagógica, Escritor de Literatura Infanto-Juvenil e de Romance


COMO O ESTADO USA A SALA DE AULA PARA ESCONDER O FRACASSO DE SUAS POLÍTICAS SOCIAIS 


Quem nunca ouviu alguém dizer que o professor é "de tudo um pouco"? Médico, tio, tia, mãe, pai, psicólogo, assistente social... A lista é longa e, muitas vezes, repetida com certo orgulho. No entanto, essa atribuída ao docente esconde um risco grave: quem tenta ser tudo, corre o risco de não ser plenamente o que realmente é de fato: professor. 


O mais preocupante é que muitos professores internalizam esse discurso e reproduzem a ideia: "Somos um pouco de tudo". É preciso desmistificar essa crença. Professor é professor. E isso já é muito. Não precisamos, e não devemos acumular funções que extrapolam nossa formação, competência e, principalmente, nosso escopo profissional. 


E o que vem a ser esse termo, ainda tão pouco discutido na docência? 


O que é escopo profissional, e por que ele importa tanto? 


Escopo profissional é o conjunto de atividades, responsabilidades, limites e competências que definem a atuação de um profissional em sua área específica. Ele estabelece o que esse profissional pode, deve ou não deve fazer, com base em sua formação, experiência, regulamentações legais e normas da profissão. 


Ter clareza sobre esse escopo é essencial para garantir que cada profissional atue com qualidade, responsabilidade e dentro dos limites legais de sua atuação. 


Vejamos alguns exemplos para ilustrar esse conceito fora do contexto escolar: 


Fisioterapeuta: sua função é tratar e reabilitar disfunções do movimento e da funcionalidade do corpo. Não pode, por exemplo, prescrever medicamentos, isso é prerrogativa exclusiva de médicos e outros profissionais legalmente autorizados. 


Juiz de Direito: julga processos, garante a aplicação da lei e determina medidas legais, como prisões. No entanto, não é ele quem realiza a prisão, essa é uma tarefa operacional da polícia. O juiz atua no campo jurídico, não na execução. 


E nós, professores, será que temos plena consciência dos limites e das responsabilidades que compõem nosso escopo profissional? 


A importância de conhecer e respeitar nosso escopo 


Conhecer o nosso escopo profissional é uma forma de valorização da docência. Quando assumimos funções que não nos cabem, corremos o risco de sermos sobrecarregados, de agirmos sem respaldo legal e, ainda pior, de banalizarmos o real valor da nossa atuação pedagógica. 


Ser professor já exige uma gama enorme de competências: planejamento, ensino, avaliação, mediação de conflitos, formação continuada, trabalho interdisciplinar, entre outras. Não precisamos, e não devemos, ocupar os vazios deixados por políticas públicas ineficientes, assumindo funções que pertencem a outros profissionais da escola ou da sociedade. 


Uma tarefa para nós, professores 


Fica aqui um convite, ou melhor, uma tarefa de casa para nós, professores: 


Pesquise qual é o escopo profissional do professor. Consulte a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), os Estatutos do Magistério, os Planos de Cargos e Salários de sua rede de ensino e documentos oficiais da sua escola. 


Compreender nossos direitos, deveres e limites é um passo essencial para evitarmos abusos, fortalecermos nossa identidade profissional e, sobretudo, reafirmarmos que ser professor já é, por si só, uma tarefa grandiosa e insubstituível. 


Texto extraído do livro “O professor fora da curva” de Nelson Neves 


 
 
 

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