RUA 13 DE MAIO (FATOS REAIS)
- jjuncal10
- 24 de jan. de 2022
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RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
De 1550 a 1888, período da escravidão no Brasil Colônia, muitos crimes de mortes envolvendo o branco predador e o preto presa aconteceram nos casarões dos senhores fidalgos. Em São Luís do Maranhão, somente no século XIX, a Rua 13 de Maio (antiga Rua São João) foi palco de vários desses crimes horrendos. No sobrado número 124 da referida rua, o Desembargador Pontes Visgueiro (um ancião que andava arrastando os pés, surdo e ciumento) matou, esquartejou e enterrou no jardim daquela morada a sua bonita escrava e amante Mariquinha. Em outra casa imponente daquela rua, uma fidalga viúva, de 45 anos matou por asfixia um escravo de doze anos numa relação sexual alucinante. Em um casarão próximo, a Baronesa de Grajaú ─ uma besta humana ─, que já havia mandado arrancar a torquês os dentes de uma escrava, pelo fato de o Barão ter elogiado o sorriso da moça, matou com requintes inimagináveis de maldade (entre outros, perfurando com garfo as partes íntimas da sua vítima) o escravo Inocêncio de apenas oito anos. Na esquina da Rua 13 de Maio com a Rua da Paz, no Prédio denominado Palácio das Lágrimas (lágrimas de uma escrava), o português Jerônimo Pádua foi assassinado pelo irmão, por terem os dois saído de Portugal com intuito se darem bem em São Luís, e só Jerônimo enriqueceu, o outro Pádua continuou pobre. O assassino fez o crime transparecer como morte natural para se apoderar dos bens do irmão morto e descarregar o seu ódio doentio nos criados, em especial na escrava mancebo do finado. Com pouco tempo, tudo veio à tona, e um filho de Jerônimo com a dita escrava empurrou o assassino do pai por uma janela do alto daquele sobrado, culminando com a morte deste. Em um estábulo, na final rua em questão, um senhor de engenho matou no açoite o seu escravo, pelo fato de este – que dormia numa cocheira − não ter acordado na noite em que a esposa daquele senhor fora morta ao tentar relacionar-se com um cavalo reprodutor.... Tudo crime com o mesmo pano de fundo ─ sexo e racismo!
Já no Século XX, mais precisamente em 16 de junho de 1966, na Rua 13 de Maio, esquina com a Rua do Sol, na Casa das Bicicletas, o português Fernando Arteiro assassinou a marteladas o seu sócio e patrício José Melo, numa noite de balanço contábil, em que as evidências comprovavam as falcatruas de Arteiro na empresa Melo & Arteiro. Eu conheci os dois, até porque...
... Transitei normalmente cinco anos pela trágica Rua 13 de Maio, quando cursei o primário na Escola Modelo Benedito Leite, em São Luís do Maranhão. Contudo, no último dia de aula, após receber o resultado da conclusão do curso, eu, com 13 anos de idade, fui paquerado por uma moça negra − sem dúvida mais velha que eu − que me acenou da casa ao lado do sobrado número 124, onde Pontes Visgueiro havia matado Mariquinha. Aquela jovem me viu passando do outro lado da rua e convidou-me para um encontro naquele dia, na casa dela, às 8h da noite. Por mais homenzinho que eu achava que era – já sabia namorar, comecei cedo – apenas balancei a cabeça confirmando.... Passei o resto do dia entre o medo e a vontade de ir ao encontro daquela moça.... Afinal, se ela me convidou, é porque queria... E isso terminou pesando na minha decisão. Menti em casa que iria a um aniversário no mesmo bairro, peguei um ônibus às 19 h. 30 min e fui para o centro da cidade. Desci na esquina da Casa das Bicicletas. Olhei rapidamente para o prédio onde Arteiro havia assassinado recentemente Melo e, de súbito, senti um arrepio no corpo. Para piorar, a iluminação da Rua 13 de Maio era tétrica. Evitando olhar para os lados, a passos largos, caminhei e só parei em frente à casa onde morava a minha “sedutora”. Pairava sobre mim um misto de medo e de ansiedade. Olhei por cima da mureta, pareceu-me ser ela sentada no batente da porta. Pedi licença, abri um portãozinho de ferro e adentrei a área da casa. Quando virei de frente, arriscando um boa noite, não havia mais ninguém no batente, apenas a porta da casa entreaberta. Estático, eu ouvia passos e vozes Indecifráveis de pessoas no interior da casa. O medo fez lembrar-me do crime pavoroso que acontecera no sobrado ao lado, e não pude evitar o pensamento de associar uma visagem de Mariquinha com a moça com quem iria encontrar-me. E, como adolescente que eu era, esmoreci. Senti calafrio. Tremi. Apavorei. Quis rezar, não sabia... Quis retirar-me, não tive coragem de virar de costas... De repente, visualizei uma mão feminina com as unhas pintadas de branco abrindo a porta, em seguida ouvi o ruído de passos arrastados aproximando-se e uma voz cavernosa que ordenou:
─ D e i x a - o e n t r a a r r r! ...
Saltei por cima do portãozinho de ferro e corri, corri e correndo passei a sentir a sensação de que aquela mão estava tocando no meu ombro, tentando segurar-me.... Aí continuei a correr gritando socorro... Só parei cerca de um quilômetro depois, numa parada de ônibus, na Rua de Santana, onde algumas pessoas me acalmaram.... Deram-me água com açúcar... Ufa!!!
(Rua 13 de Maio!... Terminou sobrando pra mim!)






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