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SEXTA-FEIRA 13

jjuncal10

RIBAMAR VIEGAS

ESCRITOR LUDOVICENSE


Hoje, 13 de maio de 2022, lembrei-me do espertíssimo paraense Doriel.


Doriel, no uso das suas atribuições de escrivão da Delegacia de Proteção à Família, em Belém do Pará, copiava dos registros de ocorrências daquela Jurisdição, nomes endereços e telefones de mulheres acusadas de infiel por maridos infelizes e, através desses trunfos, contatava com as acusadas oferecendo seus preciosos préstimos de escriba (dar uma mãozinha) para depois ir fundo no seu objetivo: − uma transa.


Os encontros amorosos de Doriel com as malditas aconteciam sempre às sextas-feiras. Tanto que Doriel exaltava as suas escapadas com uma conotação bastante categórica:


─ Por mim, já teriam decretado sexta-feira o dia internacional do adultério!

Naquela sexta-feira 13, Doriel nem se tocou para esse lance de superstição. De mochila na mão, despediu-se da mulher com o mesmo pretexto de sempre:


─ Maria, estou indo a uma cidade do interior lavrar umas ocorrências extraordinárias. Devo chegar amanhã.


─ Boa viagem ─ desejava-lhe a doméstica mulher, seguido de um beijo.


Doriel foi para o seu local de trabalho no centro de Belém. Ele estava excitadíssimo. E não era pra menos. Pela primeira vez ele iria fazer um programa sem precisar recorrer a endereços e telefones. Marinaldo – um colega seu de serviço ─ havia lhe convidado para uma parceria. Os dois passariam a noite com duas gatas. Marinaldo com Silvinha e Doriel com a gaúcha Sheila, uma parceira de noitada da acompanhante de Marinaldo. Tudo de bandeja. Mesmo assim, Doriel só topou o programa, porque Marinaldo lhe garantiu que a gaúcha era uma dama na sociedade e uma prostituta na cama. Discretíssima e muito atraente, como a maioria das mulheres sulistas.


Ou seja, o prato predileto de qualquer “escrivão”.


Às oito da noite, conforme combinado, Marinaldo passou de carro na Delegacia e apanhou Doriel, banhado, trocado de roupa e perfumado, e seguiram para o encontro com as mulheres num luxuoso bordel nos arredores da cidade. Foram recebidos cordialmente pela dona Casa – uma famosa cafetina Guajarina – conhecida por Tia Maroca.


Após beijar a mão da cafetina, Marinaldo perguntou:

− Elas já chegaram?


─ Já, meus queridos, chegaram ─ respondeu a prestimosa Tia Maroca com voz harmoniosa de uma madre superiora ─. E concluiu: − Estão exuberantes como sempre. Esperam por vocês no primeiro reservado à direita do salão.


Marinaldo entrou na frente e foi agraciado com beijo da sua gata. Tomou lugar à mesa e, ainda de pé, fez as devidas apresentações ao ansioso Doriel:


─ Esta é a minha Silvinha... E essa é a gaúcha Sheila, amiga dela, joia a qual eu lhe falei. Como se Doriel, apesar da penumbra do ambiente, do vestido lilás de decote em a ver o umbigo, do sapato de salto altíssimo e da maquiagem à moda Cleópatra, não soubesse que aquela era a submissa Maria, sua legítima esposa.


A pancadaria, o corre-corre foi inevitável. Mas Doriel rodou mesmo a baiana foi no momento do registro da ocorrência na Delegacia de Proteção à Família, quando o escrivão do plantão – um dos íntimos de Doriel – lhe preguntou:


− Nome, endereço e telefone da acusada? ...





 
 
 

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