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- jjuncal10
- 21 de fev.
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RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Foi no século XIX, na Província do Maranhão. Fazia uma tarde chuvosa, em São Luís, quando a caleça, puxada por um burro, estacionou no pátio do Solar, próximo ao Seminário Santo Antônio, residência do Conselheiro do Império, o português Antero Gomes de Castro − o Doutor Castro. Apesar do mau tempo, ele espiou pela janela do seu quarto, no andar de cima, e viu descer da caleça, carregando um alforje de couro-sola, uma jovem negra cujo vestido de chita, curto, molhado e colado à pele deixava transparecer as bem traçadas curvas daquele corpo ébano.
─ Quem é? – interessou-se o respeitável senhor.
─ Será a nova ama-seca da nossa filha Mariana. Chama-se Xixita e tem a mesma idade da nossa menina, quinze anos − esclareceu Dona Jovita, a esposa.
Estranhamente, o Conselheiro desceu com um guarda-chuva, recebeu a escrava e conduziu-a a um quarto no andar de cima do Solar, ao lado do quarto da filha. E, vidrado no belo corpo da negra − uma presa no ponto de abate, pensou − e, com afago, perguntou:
− Gostastes do quarto? Se fizeres por merecer, aqui tu vais ter de tudo!
─ Mas não carece tanto! ─ humilhou-se a escrava.
─ Carece sim! É só fazer o que eu mandar e não contar para ninguém! Ser da minha confiança! Satisfazer a minha vontade! Ser boazinha comigo! Assim tu poderás ganhar até a tua carta de alforria! Ser livre!
─ Ah! Aí eu faço tudo que for do seu agrado e juro guardar segredo!
─ Ótimo! Hoje à noite, eu venho visitar-te. Deixas a porta entreaberta e, se quiseres mesmo me agradar, espera-me despida com a luz apagada.
─ Se é do seu agrado, vou lhe esperar sem roupa e com a luz apagada! − O Doutor Castro foi a mil, sem deixar de contemplar os rijos mamilos apontando para o céu e os alvíssimos dentes da jovem escrava.
Finalmente, a noite chegou para o ansioso Conselheiro do Império, que já não escondia a sua inquietude com a demora da mulher e da filha, que já deveriam ter descido para rezar na capela de São José de Brotas, situada no térreo do Solar. Até que, finalmente, as duas pegaram os rosários, despediram-se dele e saíram. O senhor Antero Gomes de Castro ─ um sexagenário pregador da moral, da ética e da religião, que só assistia missa no presbitério do Seminário Santo Antônio ou no da Catedral da Sé, sede da Arquidiocese − saiu do seu quarto metido num chambre, fechou a porta do corredor – mesmo que a mulher e filha chegassem antes do previsto, teriam de bater à porta ─ e, de ponta de pé, chegou à frente do quarto de Xixita. A porta estava entreaberta, conforme combinado. Excitadíssimo, pensando no corpo esbelto da escrava, nos seios rijos, nas coxas roliças, no ventre bem desenhado e, principalmente, nos só quinze anos de idade.... Com as mãos em concha em volta da boca, anunciou-se:
─ Sou eu, o Doutor Castro!
Xixita, nua, abaixou ao máximo a luz do candeeiro e prontificou-se:
− Pode entrar!
O Doutor Castro livrou-se do chambre e, em pelo ─ mais afim do que noivo em lua de mel –, pulou para dentro do quarto. A escrava fez voltar a luz do candeeiro e, só então, ele pode perceber a esposa e a filha sentadas na cama − a centímetros dele ─ que esperavam a escrava vestir-se para ir rezar com elas. O Conselheiro do Império soltou um gemido agudo e caiu ereto por cima da mulher e da filha, fulminado por um infarto. Foi o dia da presa!







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