A MORTE DO DETETIVE LUSTROSA
- jjuncal10
- 24 de dez. de 2022
- 3 min de leitura

RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Conheci Edézio nos idos de 1982, durante a pavimentação da Rodovia BA-148, Brumado – Livramento de Nossa Senhora, na Bahia. Naquela ocasião, Edézio, com cerca de 20 anos de idade, já estava no seu segundo casamento. O primeiro ocorreu com toda legitimidade, civil e católico, em Conceição de Maria, no Recôncavo Baiano, sua terra natal. O segundo casamento – no contrato – foi na cidade de Brumado com uma moça do povoado Lagoa Funda.
Reencontrei Edézio cinco anos depois, numa turma de recapeamento asfáltico, na Rodovia BR-116, em Jequié-Bahia, no dia antecedente ao seu sexto casamento. Naquela oportunidade, com uma jovem daquela hospitaleira cidade ─ já deu para notar que Edézio era chegado em contrair matrimônio.
Onde quer que ele exercesse a sua honrosa profissão de Auxiliar de Pavimentação, num piscar de olhos ficava noivo e casava. Era no contrato, na umbanda, na conciliação, no juiz de paz... O certo é que Edézio terminava casando. E vale dizer que o biótipo de Edézio estava mais para Vampeta do que para Kaká. A “arma mortífera” de Edézio nas suas investidas amorosas era o traquejo incomum junto a suas vítimas. Ele forjava sempre uma voz mansa, um sorriso incompleto, uma mansidão quase papal. E o bote certeiro para obter resultados imediatos nas suas conquistas era a tônica de suas apresentações. Um ex-padre que largou o sacerdócio por um amor platônico não correspondido; um advogado afastado injustamente da função pela OAB; um estudante no último ano de engenharia com matrícula suspensa por motivo financeiro após a morte súbita do pai; um herdeiro de uma fortuna que só chegará a suas mãos depois de casado e muitos outros personagens dignos de misericórdia e de carência de investimento, por parte de uma mulher, que desejasse retorno em curto prazo.
Voltei a encontrar-me com Edézio em 2005, em Salvador, quando visitava o pátio de equipamentos de uma construtora. Depois do cumprimento de praxe, perguntei:
─ E os casamentos, Edézio, ainda continuam?
─ Até depois de morto!
─ Por que até depois de morto? – Fiquei curioso.
Edézio contou:
─ É que eu fui trabalhar na pavimentação de uma estrada lá pras bandas de Canavieiras e me apresentei a uma loira da cidade como sendo o detetive Lustrosa, em missão secreta, por isso estava disfarçado de trabalhador braçal. A gata achou fascinante sentir-se a garota do 007 brasileiro, e a barriga dela cresceu antes do casório. Pois não é que o pai da criatura era um fazendeiro cercado de jagunços, mais brabo do que onça pintada acuada? E o homem não deixou por menos e me intimou:
− Ou tu casas imediatamente com minha filha, no Fórum e na igreja, de véu e grinalda, como manda o figurino, ou a tua missão de detetive aqui vai ser encontrar teus escrotos, depois de cortados e jogados no mar.
Consegui escapulir de Canavieiras com a desculpa de buscar o batistério para o casamento. Cheguei a Coração de Maria, fui direto à funerária de um amigo de infância, vestir-me de defunto, deitei num caixão, com direito a flores, ostensório, velas acesas e uns quatro conhecidos em volta do caixão que não paravam de chorar. Uma foto do velório de Edézio, ou seja, do detetive Lustrosa dentro do caixão foi enviada para Canavieiras, com os seguintes dizeres: BRAVO HOMEM DA LEI FOI ABATIDO POR BANDIDOS ÀS VÉSPERAS DO SEU CASAMENTO!
Segundo Edézio, a missa do sétimo dia da morte do detetive Lustrosa na Paróquia de São Boaventura, em Canavieiras, foi muito concorrida. A quase viúva, em prantos, desmaiou várias vezes.
(Mais uma coitada que acreditou em peão de trecho)






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