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A PROLE


RIBAMAR VIEGAS

ESCRITOR LUDOVICENSE


Tião, pernambucano da gema, cabra macho, viril, homem da roça cujo lema era: “de dia na agricultura e de noite na criatura”, pisou na sala de registro de paternidade do Fórum da pequena Catumbinha, em Pernambuco, pela segunda vez no mesmo ano, com o propósito de registrar mais um herdeiro da sua modesta moenda de cana de açúcar. Ele havia registrado um filho em janeiro e agora estava ali, em dezembro do mesmo ano, para registrar outro filho da mesma mulher.


A escrivã, Vespertina, uma solteirona ativa, encarregada de preencher os formulários de registros de nascimentos, lembrou-se da presença anterior de Tião naquele Tribunal pelo mesmo motivo e, admiranda do poder de “fogo” daquele exemplar de catingueiro, excitou-se de curiosidade e puxou conversa:


─ Mais um filho, não é, Seu Tião?


─ É!


─ E Dona Dalvinha, coitadinha, tão magrinha, como ela se sente parindo tantos filhos assim?


─ Tá lá!


─ O senhor com Dona Dalvinha já têm quantos filhos, seu Tião?


─ Treze!


─ Então, Seu Tião, sua prole é grande!...


− E grossa!! – garantiu o “sutil” catingueiro.


─ Seu Tião, parece que o senhor não entendeu bem a minha observação... Eu só quis dizer uma família grande... Ah! Mas, diante de um reclame desses, Seu Tião, não dá para o senhor buscar o registro de nascimento do menino lá em casa hoje à noite?...


Tião, entendendo a pretensão do auspicioso convite, só fez questão de advertir sobre o que ele entendeu por reclame:


─ Dá! E quero mostrar à doutora que da minha “prole” a senhoria não vai ter do que reclamar!


No ano seguinte, sem maiores propagandas, ou melhor, reclames, quem aumentou a prole foi a escrivã Vespertina, com um casal de gêmeos, que era a cara de Tião.



 
 
 

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