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RIBAMAR VIEGAS

ESCRITOR LUDOVICENSE


Ele se chamava Zé Caveira. Morava na Rua da Estrela Nº 1, em São Luís do Maranhão. Sobrevivia fazendo e vendendo papagaios (pipas). A bem da verdade, ninguém por lá fazia esse tipo de brinquedo melhor do que ele.

Todavia empinar pipas em São Luís se faz, preferencialmente, nos meses de julho, agosto e setembro – período de férias, estiagem e ventos favoráveis – e o dinheiro ganho nesses três meses nem sempre era suficiente para esse pipeiro ludovicenses sustentar a família durante o restante do ano. O certo é que Zé Caveira, a mulher e quatro filhos viviam numa pindaíba de fazer dó.

Diante da miséria, Zé Caveira, esperançoso como todo bom nordestino, vivia suplicando aos céus por dias melhores, um milagre qualquer que lhe amenizasse o sofrimento. Naquela noite ele teve um sonho. Nesse sonho uma voz lhe dizia que a sorte dele estava em Belém do Pará.

Para quem passou a vida toda buscando uma possibilidadazinha qualquer para se agarrar e tentar melhorar de vida, Zé Caveira não teve dúvida em botar fé no seu sonho. Juntou o restinho do dinheiro que tinha, despediu-se da família e embarcou num navio rumo a Belém do Pará.

Após dias e noites de céu e mar, o sonhador desembarcou no Porto Flúvio-Marítimo de Belém do Pará, zonzo da maresia, sem conhecer ninguém e muito menos o lugar. Com um saco às costas, ele caminhou trôpego até a Praça do Mercado Ver o Peso e sentou-se num banco, ao lado de um preto velho que olhava para o céu, coçando a cabeça e pitando um cigarro de palha. O dinheiro que lhe restava mal dava para tomar uma cuia de tacacá e pagar a passagem de volta para São Luís. Por um instante, a sua atenção se voltara para as badaladas do sino da Basílica de Nazaré convocando os fieis para missa das sete horas da manhã.

Quem puxou a conversa foi o preto velho:

─ O amigo é da onde?

─ Sou de São Luís!

─ Veio a Belém a negócio?

─ Não! Vim porque tive um sonho!

─ Um sonho?

− Sim! Sonhei que a minha sorte estava aqui em Belém.

─ Ora, o amigo ainda é desses que acreditam em sonho?

─ Nesse sonho eu acreditei!

− Desculpe, mas acho que o amigo está fazendo papel de besta. Sorte aqui em Belém, só para políticos e outro corruptos. Pobre aqui fica cada dia mais pobre.

─ É, mas, no meu sonho a voz foi tão taxativa... Que eu acreditei.

─ Quer um conselho? Aproveite a volta do navio, retorne para sua terra e pare de sonhar, senão, qualquer dia desses o amigo vai parar na China!

− Sabe que o senhor tem razão? Eu vou é voltar pra casa, antes que o meu dinheirinho acabe e eu tenha que ficar por aqui mendigando, o resto da minha vida.

─ Pois é o melhor que o amigo faz. Porque, se sonho fosse coisa de se acreditar, eu mesmo já tinha saído da daqui para São Luís, desenterrar, veja o senhor, um pote enorme cheio de moedas de ouro, junto a um pé de fruta-pão, no quintal da casa Nº 1, numa tal de Rua da Estrela... Tantas vezes tive esse sonho e nem por isso me toquei daqui pra lá...

─ Meu se-nhor, o-bri-ga-do pelo com-se-lho... Agora me deixe correr, não posso perder o navio que já vai zarpar de volta... Adeus!... Adeus!... Meu velho!... Que Deus lhe abençoe!...

Zé Caveira só precisou de pá e picareta para desenterrar, no quintal da casa dele, um verdadeiro tesouro em moedas de ouro e, da noite para o dia, tornar-se um homem rico em São Luís, dono de várias propriedades ativas e dinheiro em popança. ─ ACREDITE SE QUISER!













 
 
 

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