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O Cheirinho da Loló

jjuncal10

RIBAMAR VIEGAS

ESCRITOR LUDOVICENSE


A reunião da Diretoria do Clube Recreativo de uma simpática cidade da baixada maranhense (cidade de queijo bom e mulher faceira) entrou madrugada adentro. Na pauta, a organização da festa de carnaval e, principalmente, a severa vigilância quanto ao uso do Cheirinho da Loló por parte de algum folião viciado em droga. Como não poderia deixar de ser, a presença do tudo do Cheirinho da Loló sobre a mesa da reunião provocou comentários dos mais variados.


Tõe Policarpo, secretário, foi taxativo em afirmar:


─ Uma besta como eu engolia isso por desodorante!


Chico Roseno, tesoureiro, foi mais fundo na sua observação:


─ Pra mim essa coisa não passa de uma bomba! Afinal, essa peste mata, não mata?


Pedro Urucum, diretor social, fazendo uso da sua costumeira arrogância, tomou o tubo nas mãos e, após examiná-lo detalhadamente, resmungou:


─ Agora que já conheço bem o bicho, nem o cão vai cheirar essa bexiga na nossa festa!


Zeca Damasceno, diretor de patrimônio, como era do seu feitio, fez uma gracinha, relacionando o nome da droga com uma antiga prostituta do lugar:


─ E eu que pensei que a velha Loló Creche só prestasse para iniciar a molecada da cidade na arte de fazer saliência.


Eram dez horas da noite do sábado gordo quando foi dado o grito de carnaval no Clube Recreativo da cidade através da marchinha Zé Pereira:


─ Viva Zé Pereira! Viva Zé Pereira!! Viva Zé Pereira!!!... Lá! La!! La!!...


Logo o salão foi tomado pelos foliões mais afoitos que dançavam e pulavam ao som inconfundível da banda Os Ases da Fuzarca.


Os diretores do clube, tais quais agentes secretos, circulavam disfarçados nas suas fantasias por todos os lados, numa vigilância ostensiva contra o grande inimigo – O Cheirinho da Loló. – Ao passar um pelo outro, cochichavam:

─ Viu?


─ Até agora, nada! Mas tô de olho!


Lá pelas duas da madrugada, com o salão do jeito que o diabo gosta – muita gente e muita folia –, Zé Finó, diretor de esporte, chegou à mesa da diretoria quase botando o coração pela boca e balbuciou:


─ Eu vi! Eu vi!! Eu vi!!!


─ Viu o que, Homem? – Perguntou Chico Roseno, sugando uma dose de conhaque e engolindo um pedaço de pastel.


─ E vi um sujeito no salão com um tubo do tal Cheirinho da Loló.


Finalmente a ignominiosa notícia. Afinal, aquela cidade era um cafundó e, até então, a única droga que a rapaziada de lá cheirava era os sovacos das quengas do puteiro de Beloca.


José Bitônio, Presidente do Clube, pai da ideia do Cheirinho da Loló, exaltou sua mediúnica intuição, dizendo:


─ Ainda bem que meu pai Oxalá me fez presumir que isso poderia acontecer na nossa festa!


Pedro Urucum, com a sua arrogância aguçada, subiu nas esporas e berrou:


─ Vamos logo lá porque, se for Loló, eu conheço!


Os dirigentes do clube, inclusive as esposas, levantaram afinal todos queriam conhecer e persona não grata da festa. Em fila indiana, seguiram Zé Finó em meio aos foliões até um canto do salão onde Quinca de Daza, cabra bom de lambada e de lambança, dançava gastando o batom da cabocla Toinha Peituda.


─ Cadê a Loló? – Rosnou afoito Pedro Urucum.


Zé Finó apontou com os beiços para um volume cilíndrico no bolso da bermuda do delirante Quinca, para onde todos os olhares convergiram. Quica permanecia dançando agarradinho com os olhos semicerrados sem se dar conta daquele grupo de sociáveis ao seu redor.


─ Pode deixa que cabe a mim tomar essa peste desse chincheiro e botar o safado no olho da rua a tapa! – Bradou o afoitado Pedro Urucum no uso das suas atribuições de diretor social.


Zeca Damasceno quis dizer alguma coisa, mas engoliu a fala diante da voz autoritária de osé Bitônio em apoio ao Diretor Social:


─ Vai firme, compadre Urucum, que eu vou mandar parar a festa para que todos possam conhecer esse usuário de droga!


Pedro Urucum foi de pontinha de bota e, num bote certeiro, meteu a mão no bolso da bermuda de Quinca, pegou e puxou. Nesse instante, a música parou e o que se ouviu foram os berros escandalosos de Quinca ecoarem pelo salão:


− Larga meu pinto! Larga meu Pinto!! Larga meu Pinto!!! Tem uma bicha pegando no meu pinto! Bota essa bicha pra rua!


E pior, além de a festa terminar em pancadaria envolvendo o incontrolável Pedro Urucum e os demais membros da diretoria do clube e esposas, os moradores daquela cidade passaram a ver o afoito Pedro Urucum como uma perigosíssima bicha, dessas que, quando bebem atacam. E tudo por causa da Loló de Quinca de Daza.










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