O PERFUME
- jjuncal10
- 6 de ago. de 2022
- 3 min de leitura

RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Natural de Cariacica, Espírito Santo, Anastácio trabalhava em uma empresa de montagem industrial na cidade de Brumado-Bahia. Ele era de estatura mediana, cerca de trinta anos, branco, magro, de boa fisionomia – tinha tudo para se dar bem com a mulherada da cidade −, mas, o que atrapalhava Anastácio era a sua índole, pior do que de uma hiena. Desaforo de homem, Anastácio não levava pra casa, mesmo!
O cabra podia ter o tamanho que tivesse Anastácio saia na mão sem pensar duas vezes. Festa boa para Anastácio era aquela em que ele brigava pelo menos, três vezes. Recordo de um baile no Clube Juá daquela cidade, em que o segurança do Clube, conhecido por Inocenção, “convidou” Anastácio quatro vezes a se retirar do salão de dança por causa das brigas. Anastácio era jogado para fora por uma janela, sacudia a poeira, voltava por outra e trançava de novo na porrada. Em suma: Anastácio não tinha pavio, detonava instantaneamente.
Beirava umas dez horas da manhã de um domingo de verão em Brumado, o gole já corria solto no bar Rei do Aperitivo, quando Anastácio adentrou o ambiente ostentando um hematoma no olho esquerdo, curativo num cotovelo e pediu uma pinga. Reverenciou Tiãozito, o tabelião da cidade, − que bebia pelo lado de dentro do balcão −, a quem Anastácio respeitava e devia favores. Tiãozito, ao deparar-se com Anastácio, comentou sério:
─ Tô sabendo da tua briga de ontem à noite no puteiro de Rosa. Será que você não toma mesmo jeito, Anastácio!?... Bebe tua pinga e chispa daqui! .... Vai procurar briga em outro lugar!
─ Sabe, seu Tiãozito – tentou justificar Anastácio –, pro senhor ver, a briga não era nem comigo... Eu cheguei pra olhar, era uma briga de dois contra um e eu entrei do lado do um. Foi só isso! ...
─ Já bebeu a pinga? Pode deixar que eu pago – encurtou a conversa Tiãozito. Anastácio depois de engolir a dose de pinga, caminhou em direção à porta, mas antes de sair, teceu o seguinte elogio sobre o perfume que usava o destacado tabelião:
─ Pô, seu Tiãozito, vamos respeitar esse perfume que o senhor tá usando! ...
Tiãozito, muito sensível a elogios, buscou a afirmação de Anastácio sobre o aroma do seu perfume:
─ Gostou mesmo do cheiro do meu perfume, Anastácio? ...
─ Pode botar gostar nisso, seu Tiãozito! .... Esse perfume do senhor é de mais! ... Tá doido!?...
─ E se eu te der um vidro desse perfume, Anastácio, tu prometes nunca mais brigar? – Indagou o tabelião num tom de desafio.
Anastácio deu meio volta, ajoelhou-se e de mãos postas, prometeu:
─ Eu juro pro senhor, seu Tiãozito! Ganhando um vidro desse perfume, nunca mais eu brigo! ... Juro pelo que há de mais sagrado!!
Tiãozito mandou buscar e, com menos de dez minutos, entregou a Anastácio um vidro do seu perfume predileto, Lancaster.
Anastácio, novamente de joelho e de mãos postas, com lágrimas nos olhos, agradeceu ao tabelião, confirmando o seu juramento de nunca mais brigar e saiu do bar para o Hotel Alvorada, onde morava. Após tomar banho e trocar de roupa, Anastácio perfumou-se dos pés a cabeça com Lancaster e chegou rapidinho ao puteiro de Margarida, no bairro do São Felix, cheio de amor pra dar. Ele mal pisou no salão, um sujeito que bebia só, numa mesa próxima a entrada, franziu o nariz buscou no ar o cheiro do perfume de Anastácio e provocou:
─ Eu não gosto de homem que usa perfume!
Anastácio já retrucou descendo a mão:
─ E eu não gosto de homem é de jeito nenhum! ... Pulf! ... Pulf! ... Pulf!
Segundo o tabelião Tiãozito, aquela foi a maior briga de Anastácio em Brumado.
(Tiãozito − Sebastião Cardoso – ilustríssimo brumadense, estudioso sistemático de literatura, autor de vários livros e contos pitorescos, reside atualmente em Belo Horizonte − MG).







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